Veneno agora despejado com drone ameaça 40% a 70% do campo no Acre e em Rondônia 3t2y4g

Camponeses denunciam despejo de agrotóxico por drones que afetam pequenos produtores e extrativistas.

Veneno agora despejado com drone ameaça 40% a 70% do campo no Acre e em Rondônia 3t2y4g

Camponeses denunciam despejo de agrotóxico por drones que afetam pequenos produtores e extrativistas.

Até de madrugada está difícil de flagrar, mas o despejo de hermiquímicos, o conhecido veneno agrícola, feito na escuridão, está tirando o sono de “peões” de fazenda, de pequenos produtores e castanheiros em atividade nos estados de Rondônia e do Acre. No município de Porto Velho, o percentual é superior a 62%. 6167q

“Venham aqui pra ver a situação, eles usam silenciosamente a máquina e de manhã tá tudo pronto e acabado”, apelou o líder camponês Paulo Sérgio Araújo, do Acampamento Marielle Franco, no município de Boca do Acre. 

Na verdade, a denúncia de Araújo poderia ser apurada pela fiscalização trabalhista e por agências agrossilvopastoris do Acre e de Rondônia. 

O uso de produtos herbiquímicos é uma das práticas do agronegócio, para aumentar a produção de grãos e, ao mesmo tempo, formar pastagens para o gado bovino na Amazônia Ocidental Brasileira – do mesmo jeito que aplicam em outros estados.

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Pistoleiros, latifundiários e policiais acusam, sem provas, a L de crimes na região do Amacro. Enquanto isso, CACs a serviço do latifúndio seguem livres na região, e conflitos agrários aumentam.
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Segundo conta Araújo, diversos produtos são jogados por drone, em tecnologia moderna que substitui antigas avionetas usadas a partir dos anos 1970, nas quais cabiam apenas o piloto e a bomba de veneno.

A considerar a elevação do consumo nos municípios da região Amacro – acrônimo de Amazonas-Acre- Rondônia – estima-se que o problema esteja atualmente presente em pelo menos 70% das lavouras de soja nos dois estados. 

Órgãos estaduais de agropecuária sonegam essas informações, hoje detectadas por pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Comissão Executiva Permanente de Defesa Sanitária Animal.

Vítima de Parkinson, diabetes e forte alteração de pressão arterial, Paulo Sérgio foi levado preso no ano ado, de Boca do Acre e Lábrea (AM), no sudoeste amazonense, para um presídio de Manaus. Sua delicada situação despertou o Tribunal de Justiça do Amazonas a inspecionar, através de sua Corregedoria Geral, a ocupação de terras devolutas, parte das quais griladas por fazendeiros do Acre.

O apelo de Araújo coincide com a recente divulgação da 39ª edição de Conflitos no Campo no Brasil, da Comissão Pastoral da Terra (T), com dados referentes a 2024.

“Respirando veneno” 3f292

Mesmo observando-se diminuição de aproximadamente 3% dos conflitos no campo em relação a 2023, os 2.185 conflitos em 2024 contra 2.250 no ano anterior são agora acrescidos do componente veneno, conforme apura o AND com pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

“Não é só a grilagem de terras e a violência da jagunçada contra nossos duzentos acampados no Marielle Franco; nós estamos respirando veneno agrícola por todo lado”, desabafou Paulo Sérgio. 

Paulo Sérgio, do acampamento Marielle Franco. Foto: T-AC

No ano ado, a Lei Federal nº 14.785/2023, conhecida como “Pacote do Veneno”, chegou a ser objeto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade protocolada no Supremo Tribunal Federal pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Rede Sustentabilidade, Partido dos Trabalhadores (PT), Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Confederação Nacional dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Contar). 

A iniciativa contou na ocasião com o apoio técnico e jurídico de organizações sociais e movimentos populares, todos unânimes em enfatizar que a a normativa “violava princípios constitucionais norteadores da istração pública, tais como legalidade e eficiência, e direitos a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, à saúde, dos povos indígenas, dos povos tradicionais, à vida digna, do consumidor, de crianças e adolescentes, entre outros.”

Investigação 5y611g

Conforme o trabalho A Reorganização do capital no campo na Amazônia, o município de Acrelândia, a 121 km de Rio Branco, possuía, seis anos atrás, 62,2% de atividade pecuária, apenas 2,9% de lavoura, 58,1% de pastagem e um desolador derrame de herbicidas por 75,6% da extensão de suas propriedades.

Esses dados fazem parte do livro assinado pelo pesquisador Afonso Chagas e outros especialistas em Amacro: professores Vitor Amaral Medrado, Tiago Aroeira, Rafael Alem Mello Ferreira, Milena de Cássia de Rocha, Ricardo Gilson, Amanda Michalski, Danicley de Aguiar, e Luciana Borges.

Menos envenenada (35,6%), Xapuri, a 187 km da Capital acreana, apresentava: 52,4% de fazendas, ínfimo 0,6% de lavouras, 21,6% de pastagem, e do total geral, 63,6% formadas por bovinocultura de corte. Ali, ainda nos anos 1980, seringueiros organizaram os “empates”, pelos quais resistiam à formação de fazendas de gado por paranaenses e paulistas, nos anos 1970. Fazendeiros “do sul” eram convidados especiais dos governos acreanos “para desenvolver o estado” instalado em 1962.

Segundo a pesquisa, outro salto surpreendente ocorria em Senador Guiomard (Quinari), a 22 km de Rio Branco: a pecuária ocupava 72,6%, a lavoura, apenas 2,3%, enquanto a pastagem abrangia 71,08%, com predominância de 52,7% de bois para corte. Agrotóxicos foram aplicados em 41,2% das áreas.

“Aqui em Rondônia são 53 Unidades de Conservação (UCs) e 23 Terras Indígenas. É um absurdo o que se faz no Brasil usando o nome ambiental; isso aí tem inibido o progresso daqueles que querem investir no agronegócio e até na agricultura familiar. Vamos achar um ponto de inflexão nisso” (Jair Messias Bolsonaro, em 31 de outubro de 2018 discursando em Rondônia).

Efeitos “letais e funestos” 1le20

O agro recebeu de incentivo do governo federal acima de 260 bilhões de reais este ano.

“Na linha traçada pelo “arco do desmatamento” é possível facilmente constatar uma brutal correlação entre desmatamento e avanço da frente agropecuária, como faces indivisíveis do mesmo processo. No entanto, essa conexão traz consigo outros efeitos, tão letais e funestos e que impactam e agridem não só o ambiente, com todos os seus recursos, mas também os povos que nesse ambiente vivem, sobretudo as comunidades e os povos tradicionais” – apura a equipe coordenada pelo pesquisador Afonso Chagas. 

O braço Rondônia da Amacro é igualmente preocupante: a 250,8 km da Capital, Monte Negro, onde ainda existe no subsolo a cassiterita (minério de estanho) e minerais estratégicos, possuía 89,1% de áreas com pecuária, 74,2% com pastagem, ambas (62,03%) “arejadas” com agrotóxicos.

Campo Novo de Rondônia, a 307 km de Porto Velho, outro antigo território garimpeiro, possuía 92,8% de atividade pecuária, 76,4% de pastos e uma carga herbiquímica espalhada por 62,04% das propriedades.

Outro fenômeno mineral, Itapuã do Oeste, a 94 km da Capital, também faz parte dos números reveladores do IBGE: se nas décadas de 1960 e 1970, ainda distrito de Porto Velho, sua cassiterita era explorada pela multinacional canadense Brascan, oito anos atrás possuía 79,7% de suas terras exploradas pela pecuária, com 63% de pastagem, 51,1% de gado de corte, e cargas de veneno em 60,2% de toda a área.

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