A Polícia Civil prendeu ontem (28/05) o artista MC Poze, em um ato denunciado pelo cantor de funk como “perseguição”. A polícia acusou Poze de apologia ao crime e envolvimento com um grupo paramilitar do Rio de Janeiro, porque supostamente Poze só faz shows em áreas dominadas por este grupo e pessoas armadas circulam nos eventos. O MC não pode controlar a entrada e saída dessas pessoas nos shows. Ainda não foram apresentadas provas das alegações. 3r6r1x
“A acusação de associação ao tráfico e a apologia ao crime não fazem o menor sentido, Poze é um artista que venceu na vida através de sua música”, diz uma nota publicada na página do MC. “Muitos músicos, atores e diretores tem peças artísticas que fazem relatos de situações que seriam crimes, mas nunca são processados, porque se tratam justamente de obras de ficção”.
A nota continua: “a prisão do Poze, ou mesmo a prisão de qualquer MC nesse contexto é na realidade criminalização da arte periférica, uma perseguição, mais um episódio de racismo e preconceito institucional, a forma absurda que o Poze foi conduzido é a maior disso”.
Poze foi levado para o presídio de Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro. Ele denunciou o tratamento recebido. “Só eu que o por isso aqui. Manda fazer isso com filho de desembargador, com quem merece”, disse, em referência às algemas colocadas em seu pulso e ao transporte no camburão. Os policiais também jogaram Poze contra uma parede e forçaram-no a abaixar a cabeça quando chegou na delegacia.
O episódio foi condenado nas redes sociais e na internet. O advogado criminalista Sérgio Figueiredo comparou a prisão de MC Poze com a do bicheiro Rogerio de Andrade, que não foi algemado quando preso. “Uso da algema definida por cor e classe social?”, questionou o advogado. Outros perfis compararam a prisão do MC com a do deputado bolsonarista Roberto Jefferson, em 2022. O deputado resistiu à prisão com tiros e lançamento de granadas, chegando a atingir um agente na bochecha, mas, quando foi preso, teve um café descontraído com os policiais. “Fica tranquilo, o que o senhor precisar, estamos aqui”, disse um dos policiais ao deputado.
A Polícia Civil tem feito um espetáculo midiático com a prisão. O perfil oficial da instituição publicou um vídeo no X em que mostra MC Poze e pessoas armadas. Uma das imagens usadas para retratar “criminosos”, contudo, é uma filmagem da série Arcanjo Renegado, da Globo, frequentemente usada em fake news sobre as favelas do Rio de Janeiro. Nos comentários do vídeo, abundam respostas em crítica à Polícia Civil. “Virou partido político? Onde está a corregedoria?”, questionou um internauta. “Só “esqueceram” de citar o “arrego” que policiais recebem para permitir o acontecimento do baile. Vão prender eles também!?”, comentou outro. “Cadê a prisão dos queridos que roubaram o INSS ? até agora nada”, adenda uma terceira.
A prisão de MC Poze acontece no cenário de crescente perseguição aos artistas do RAP e do Funk. Desde fevereiro, senadores, vereadores e deputados estaduais e federais tem avançado com um projeto de lei de censura mal chamado “PL Anti-Oruam”. A medida avança tanto na escala nacional quanto em alguns estados. O tópico tem sido duramente criticado pelos artistas da cena. “Os moleques tão falando uma realidade que é operação policial, tiros, facção. Isso é a realidade. Os moleques vão mentir?”, questionou o paulista MC Hariel, no podcast PodPah.
MC Poze é casado e pai de três filhos. Ainda não há previsão de audiência de custódia.