3n5l5o
Pessoas vão até o Mercado Municipal de São Paulo para pegar restos de alimentos que iriam para o lixo em 2021. Foto: Danilo Verpa /Folhapress
Novas pesquisas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Confederação Nacional do Comércio (CNC) publicadas no início do mês de agosto indicam o avanço do empobrecimento geral, assim como o imenso endividamento que atinge a maior parte dos brasileiros. São quase 20 milhões de pessoas em condição de pobreza, 1/4 da população sem conseguir pagar todas as contas do mês e 7 em cada 10 brasileiros sem condições de guardar dinheiro. Este é o retrato das condições de vida do povo brasileiro sob o governo genocida de Bolsonaro e generais.
DE 2014 À 2021, AUMENTO DE UM MILHÃO DE POBRES POR ANO
Homem busca emprego para conseguir alimentar a família em maio de 2022. Foto: Sérgio Lima/ Poder360
A nona edição do Boletim – Desigualdade nas Metrópoles levantou dados sobre a situação da pobreza nas metrópoles brasileiras. Entre 2014 e 2021, 7,2 milhões de pessoas entraram em situação de pobreza nas metrópoles brasileiras, 1 milhão de pobres a mais por ano. A taxa de pobreza subiu de 16% para 23,7%, o que se traduz em uma elevação de 12,5 milhões para 19,8 milhões de pessoas. Em relação à extrema pobreza, 3,1 milhões ficaram miseráveis, 440 mil a mais por ano. Essa taxa mais do que dobrou, variando de 2,7% para 6,3%.
O estudo toma como base o fato de que em 2021, em termos de valores mensais, a linha de pobreza foi de R$465 per capita e a linha de extrema pobreza de R$160 per capita. Ele é fruto de uma parceria entre a PUC-RS, o Observatório das Metrópoles e a RedODSAL.
No Brasil, os pobres viraram miseráveis
A pesquisa revela, também, o macabro empobrecimento dos mais pobres. Em 2014, os 40% mais pobres de nossas regiões metropolitanas tinham renda média de R$515. Cinco anos depois, em 2019, essa cifra havia caído para R$470. Já no contexto da pandemia, em 2021, a média chegou a R$396. Em cada região metropolitana separadamente, entre 2014 e 2021 a renda dos mais pobres cai. No Rio de Janeiro (RJ) de R$535 para R$404; em Recife (PE) de R$354 para R$246; e em Curitiba (PR) de R$714 para R$581.
Somente na região metropolitana de São Paulo – a maior e mais importante do ponto de vista econômico –, o número de extremamente pobres ou de 381 mil para mais de 1 milhão de pessoas. No Rio de Janeiro o aumento foi de 336 mil para 926 mil.
Pobres mais pobres e ricos mais ricos
Em 2014, o coeficiente de Gini – quanto maior o seu valor, maiores são as desigualdades de rendimentos – para o conjunto das regiões metropolitanas era de 0,538. Em 2019 ele havia subido para 0,562. E em 2021, já no período de pandemia, chegava em 0,565. O Índice de Gini costuma comparar os 20% mais pobres com os 20% mais ricos.
Como efeito da crise de superprodução do imperialismo, concomitante com a pandemia, não somente as desigualdades aumentaram como a média de rendimentos caiu indicando, portanto, não somente que aumentou o número de pobres, mas também que estes aram a ganhar ainda menos. Ela atingiu os menores valores da série histórica do boletim. Se em 2019 o rendimento médio era de R$1.935, em 2020 ele havia caído para R$1.830, e em 2021 chegava a R$1.698.
O estudo também mostra que durante a pandemia esses indicadores de pobreza e desigualdades aumentaram abruptamente. Entre o final de 2020 e o início de 2021, segundo os dados do estudo, a taxa de pobreza aumenta rapidamente de 19% para 24,7%, e a extrema pobreza sobe de 4,1% para 6,7%.
O ‘tudo aos bancos, nada ao povo!’ da pandemia
Foram 681 mil mortes pela pandemia de Covid-19 no Brasil durante o governo militar genocida de Bolsonaro e generais.
Os coordenadores do estudo Desigualdade das Metrópoles enfatizam que uma série de fatores explicam a piora dos indicadores sociais nas regiões metropolitanas brasileiras ao longo dos últimos anos, demonstrando que eles não começaram apenas com a pandemia. Um desses fatores é o aumento da taxa de desocupação entre 2014 e 2017 e a redução da atividade econômica nesse período. Além disso, os pesquisadores apontam para a insuficiência das ações do governo federal do período 2014-2021, particularmente a estagnação dos programas de transferência de renda, que não aumentaram de valor e no número de beneficiários. Outro elemento é a perda do poder de compra do salário mínimo, o que desestimula as famílias a consumir mais produtos do que o possível, resultando que as famílias pobres não conseguem comprar nem mesmo o estritamente necessário.
Pegando apenas os anos recentes de pandemia, o fato da situação de vida dos brasileiros ter piorado drasticamente não se deveu unicamente pela circulação do vírus. A devastação econômica que afetou o país se assentou no número sem fim de informais, comerciantes, empregadas domésticas, cabeleireiros e entre outros, que perderam seus empregos e que compõem a maioria da força de trabalho nas metrópoles. As pesquisas na época mostraram que esses trabalhadores foram os que mais se afastaram do trabalho no início de maio de 2020 e também foram os que mais morreram. De 0 a 1, em que 1 é o máximo de mortes, os “autônomos” (que inclui diaristas e camelôs) atingiram o índice 0,79. Donas de casa estão logo atrás, com 0,78. Os “empregadores” tiveram uma taxa irrisória: 0,0079. Situação semelhante é a dos “profissionais liberais”, com grau de correlação de 0,0245.
Esses milhões de pessoas foram os abandonados pelo governo atual e antecessores, que aplicaram a política de desindustrialização, contrarreformas trabalhistas e, durante a pandemia, o governo militar genocida de Bolsonaro que deixou o povo morrer às minguas em filas de hospitais e não deu auxílios na rapidez necessária, com um valor abaixo do que os trabalhadores necessitavam. Além disso, prolongou o tempo em que eles ficariam sem trabalhar fazendo de tudo o possível para não fornecer as vacinas ao povo, condenando-o ao isolamento ou à morte, e espalhando desinformação do início ao fim.
Em relação à quebradeira das pequenas empresas no Brasil, que são as que mais geram empregos, essas protestaram durante a pandemia inteira, denunciando que a burocracia para conseguir os auxílios era tão grande que não teriam o ao dinheiro que lhes era de direito. Além disso, nos estados em que o infame lockdown esteve em vigor, os pequenos comércios e negócios eram impedidos de abrir, enquanto os monopólios funcionavam durante toda a pandemia por decreto da “Justiça”.
Enquanto isso, assim que começaram os infectados no país, o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, anunciou no dia 23 de março um pacote de ajuda aos bancos que ultraou a casa de R$ 1,216 trilhão, ou 16,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar dos bancos terem recebido esse montante para conceder créditos a juros mais baixos a pessoas e empresas, de março a maio eles apenas aumentaram as suas concessões de empréstimos em R$ 50,4 bilhões, embolsando todo o resto, deixando os pequenos negócios e massas sem possibilidade de crédito.
Além de liberar dinheiro para os banqueiros, o Banco Central também anunciou que promoveria uma flexibilização de regras de crédito do “agronegócio” (latifúndio) com um no valor de R$ R$ 2,2 bilhões.
Enquanto isso, o auxílio emergencial para o povo foi de R$ 293,1 bilhões para ser dividido entre 68 milhões de brasileiros. Entre o período anterior à pandemia (primeiro trimestre de 2020) e o terceiro trimestre de 2020, a renda do estrato mais pobre das metrópoles sofreu uma brusca queda de 31,9%, chegando ao menor valor da série histórica: R$183,61.
2022 na míngua
Segundo o professor da Escola de Humanidades da PUC-RS e um dos coordenadores do estudo, André Salata, “a piora súbita dos indicadores de pobreza e desigualdades se dá logo no primeiro trimestre de 2021, justamente quando o governo federal decide interromper o pagamento do Auxílio Emergencial, a partir de uma avaliação equivocada da situação.”
A situação da economia que não se recupera está diretamente relacionada a isso, pois as famílias brasileiras não tiveram chance nem de se recuperar da crise ada, e já embarcam em outra. Ao contrário das promessas de melhoria pós pandemia do velho Estado latifundiário-burocrático, a realidade foi que, no início de 2022, de acordo com o boletim da PUC-RS, a recuperação da renda dos 40% mais pobres caiu, chegando a R$240,79 per capita. “É um empobrecimento de longa duração e isso traz consequências sociais terríveis. As famílias vão ‘queimando’ as reservas que tinham para poder sobreviver nesse período e essa agonia não a, vai perdurando trimestre a trimestre”, afirma André Salata.
De acordo também com a pesquisa da CNI, um em cada quatro habitantes no país não consegue pagar todas as contas no fim do mês. Sair do vermelho é uma tarefa cada vez mais impossível. Isso se relaciona com o dado de que apenas 29% dos brasileiros poupam, enquanto 68% não conseguem guardar dinheiro.
O levantamento também mostrou que 64% dos brasileiros cortaram gastos desde o início do ano e 20% pegaram algum empréstimo ou contraíram dívidas nos últimos 12 meses. 34% dos entrevistados atrasaram contas de luz ou água, 25% disseram ter reduzido ou deixado de comprar remédios, 19% deixaram de pagar o plano de saúde e 16% tiveram de vender algum bem para quitar dívidas. A pesquisa mostrou ainda que 14% deixaram de pagar ou atrasaram o pagamento do aluguel ou da prestação do imóvel. Outros hábitos foram afetados pela inflação segundo a pesquisa: 45% dos brasileiros pararam de comer fora de casa, 43% diminuíram gastos com transporte público e 40% deixaram de comprar alguns alimentos.
Sem dinheiro para o básico
Consumidora faz compras em supermercado do Rio de Janeiro. Foto: Pilar Olivares/Reuters
Entre os itens que mais pesaram no bolso dos entrevistados nos últimos seis meses, o gás de cozinha lidera, com 68% de citações. Em seguida, vêm arroz e feijão (64%), conta de luz (62%), carne vermelha (61%) e frutas, verduras e legumes (59%). Os combustíveis aparecem em sexto lugar, com 57%. No caso dos alimentos, a percepção de alta nos preços de itens como arroz, feijão e carne vermelha aumentou mais de 10 pontos percentuais em relação à pesquisa anterior, em abril.
O levantamento, encomendado pela CNI ao Instituto FSB Pesquisa, é o segundo realizado no ano com foco na situação econômica e nos hábitos de consumo. Foram entrevistados presencialmente 2.008 cidadãos, em todas as unidades da Federação, de 23 a 26 de julho.
A bomba-relógio do endividamento
Quase 80% das famílias brasileiras tinham dívidas em julho, o maior índice já registrado nos últimos 12 anos, de acordo com levantamento da CNC. O estudo mostra que a segunda metade do ano começou com 29% das famílias com algum tipo de conta ou dívida atrasada. Trata-se do maior percentual de inadimplentes desde 2010, quando começou a série. Em média, as famílias comprometem 30,4% da renda com o pagamento de dívidas. Cerca de 22% dos brasileiros estão com mais da metade dos rendimentos comprometidos com endividamento.
Farsa eleitoral chuta o cachorro morto da economia
De acordo com o editorial semanal de AND, Os ventos do leste na América Latina, diante da situação internacional e nacional, a realidade de miséria e piora acentuada das condições mínimas de vida da população acentuará disputas políticas no seio das classes dominantes:
“O esbanjamento de Bolsonaro na criação de gastos orçamentários obrigatórios, como os auxílios com fim exclusivamente eleitoral, lançou às cucuias a ‘regra de ouro’ da oligarquia financeira, o teto de gastos. Como disse o próprio mandatário fanfarrão: ele não pode ‘entregar o tanque cheio’ para o próximo governo de turno. Entregará, isso sim, uma bomba-relógio, ainda que seja ele mesmo o cabeça do próximo governo”.
O editorial também destaca que o subcontinente latino-americano está ando por uma convergência de crises em vários países e, neste cenário, o Brasil se destaca:
“O subcontinente, onde convergem a crise crônica de décadas com saltos agudos e um longo aprendizado das massas populares do seu padecimento sob a opressão e exploração da velha e corrupta democracia – feita de oportunismo, do eleitoreiro mais descarado ao pretenso ‘radical’ –, está, cada vez mais, ando ao centro da crise de dominação do imperialismo ianque. Isto faz da América Latina o cenário que está se convertendo rapidamente no elo mais débil, dentre outros, da cadeia mundial imperialista. Nele as forças democráticas e revolucionárias estão crescentemente fazendo sérios preparativos para os embates violentos da luta de classes que se avizinham. Ao mesmo tempo, o Brasil se destaca, o a o, deslocando-se ao epicentro das desordens mundiais.
O grande Timoneiro, Presidente Mao Tsetung, frente aos males e horrores que o imperialismo provoca e à resistência incansável dos povos oprimidos, afirmou que a lei do imperialismo é provocar distúrbios e fracassar, voltar a provocar distúrbios e fracassar outra vez, até ser varrido definitivamente da face da Terra; e que a lei do povo é lutar e fracassar, voltar a lutar e fracassar outra vez, até triunfar definitivamente. Vaticinou, assim, que “o vento do leste prevalecerá sobre o vento do oeste”. Agora, prenunciam-se grandes tempestades, novas e grandiosas jornadas de lutas populares e revolucionárias que, depois das desordens, se porá de pé uma nova grande ordem.”