Na última semana, moradores da comunidade Nossa Senhora de Fátima, no bairro Cidade de Deus, em Manaus (AM), denunciaram os abusos cometidos contra eles por agentes da Polícia Militar (PM) do Amazonas logo após confrontos entre os policiais e outros criminosos locais. Os relatos dão conta de abuso de autoridade, invasões residenciais e perseguições contra os moradores. 1r541o
No dia 15 de maio, o Sargento PM Lynael Plácido teria reagido a uma tentativa de assalto enquanto estava de folga na região, culminando na morte de dois suspeitos. Na sua narrativa dos fatos, o PM conta que teria sido abordado por três assaltantes e disparado contra eles com uma arma de fogo e que, em seguida, os homens teriam revidado e dado início a uma troca de tiros.
Os policiais afirmam que o bairro é comandado por uma organização varejista do tráfico de drogas e que o Sargento Plácido teria “reagido em legítima defesa”. Todavia, contrariando a versão do “assalto”, residentes locais contam que o PM já teria chegado no local atirando.
Um dos baleados durante a ação foi identificado como Daniel Pereira da Silva, de 21 anos, e morreu ainda no local. Outro homem, João Vitor de Almeida, de 27 anos, ficou ferido e foi levado ao pronto-socorro, onde segue internado.
O terceiro chegou a fugir da cena do crime, porém, durante a madrugada, foi localizado por agentes da Ronda Ostensiva Cândido Mariano (Rocam) informados de que ele estaria escondido em uma kitnet no mesmo bairro. Ao chegarem no local, o homem foi baleado e também faleceu.
Abusos contra moradores 37211
Após os acontecimentos, moradores relatam constantes batidas policiais com a invasão das suas casas sem mandado à procura de “evidências incriminatórias”. Em depoimento ao jornal Radar Amazônico, uma moradora contou que teve a sua moradia revirada durante buscas por jovens supostamente envolvidos no caso, mas nada foi encontrado.
Segundo uma fonte exclusiva do Radar, que conhece pessoalmente João Vitor, ele está recebendo ameaças de morte constantes e sendo escoltado por policiais no local onde está internado, o que levou sua família a procurar o jornal local para dar um novo panorama dos fatos.
“Depois disso que aconteceu, toda a polícia caiu em cima do Fátima [comunidade] e ela foi sitiada. Várias viaturas foram e invadiram a casa de moradores, gente nem ligada ao tráfico e não encontraram nada (…). Levaram gente que não tem nada a ver com tráfico e nem com crime pois aparecem no vídeo ajudando o menino que foi baleado. E quem está vigiando o preso é polícia, e está sendo ameaçado e inclusive bateram nele dentro do Platão, porque para a polícia, ele tentou matar um policial”, apresenta a fonte.
Após a divulgação de um vídeo que mostra pessoas ajudando João Vitor, a PM iniciou uma espécie de “caça às bruxas” para prender qualquer um que aparecesse auxiliando o jovem nas imagens, como é o caso de um homem conhecido por “Neguinho”, que foi preso injustamente.
O caso, como é comum nas periferias de Manaus, pode indicar uma possível atuação dos policiais em grupos paramilitares e de extermínio que, com frequência, tomam drogas e armas de grupos varejistas para revender.