Desde 2008 a introdução de um novo serviço de transporte particular de ageiros provocou certa transformação nas maiores cidades do mundo e já se espalha para todos os lados, abrangendo cidades médias e mesmo pequenas. 3q6d57
Criado em 2008, em Paris, o Uber é uma empresa que, por meio de um aplicativo (programa utilizado por smartphones), intermedia a relação entre um ageiro e um motorista que utiliza, a princípio, seu próprio carro.
É um negócio extremamente rentável para o Uber, que fica com 20% ou 25% do valor da corrida. Mesmo assim, os preços cobrados são menores que as tarifas de táxi, os carros são relativamente mais novos e há ainda diferenças em serviços como água, lanches, internet sem fio etc.
Os taxistas, claro, ficaram revoltados com a concorrência, fazem protestos, fecham ruas e avenidas, e amargam uma redução sensível em seus rendimentos, queda que chega, no Rio de Janeiro, a 40%.
Apesar da resistência dos taxistas, o serviço vem sendo regulamentado em diversas cidades brasileiras, apontando uma tendência para todo o país.
Luta de classes
Em vários debates, essa disputa é colocada como uma luta entre máfias de concentradores de táxis (falsas cooperativas) e trabalhadores autônomos representantes de uma “nova” economia.
Essa impressão, no entanto, é falsa, e esconde uma série de questões inerentes à exploração do trabalho alheio, tanto por uma quanto por outra modalidade de transporte.
A relação dos motoristas com o Uber não é tão simples quanto parece. Essa apropriação de um quarto do valor da corrida é algo imposto e representa muito mais que uma taxa pelo uso de um mero aplicativo. Os motoristas, muitas vezes desempregados que aderiram a esse trabalho por necessidade, se obrigam a jornadas de trabalho que avançam pela madrugada para conseguir levar o sustento para casa, descontados os custos e considerando a tarifa inferior à dos táxis. Algo bem diferente do que você encontra no site da empresa: “Ao dirigir com a Uber, você decide quando e quanto trabalhar. Assim, você nunca precisará escolher entre ganhar a vida e viver a vida”. Bonito, não?
Por outro lado, os taxistas se veem cada vez mais obrigados a se submeter à máfia das falsas cooperativas, o que os obriga também ao pagamento de diárias, taxas de “proteção” etc. Na disputa por ageiros, esses trabalhadores também ficam mais tempo na rua para levar menos dinheiro para casa. Não se pode esquecer também do ainda considerável número de taxistas realmente autônomos que existem, espremidos entre esses dois negócios de tendência monopolista.
Nos dois casos, para o que nos interessa, os motoristas são empregados, ainda que não tenham salário e horário fixos a cumprir. O certo é que estão submetidos à exploração impiedosa de sua força de trabalho, mesmo que, no caso do Uber, essa exploração se travista de algo “novo”.
O novo na exploração
Mais recentemente, o Uber ou a aceitar que os motoristas ingressem no serviço mesmo sem ter carro. Basta que o trabalhador alugue um veículo. E ainda há quem diga que o motorista da empresa é seu próprio patrão.
Entretanto, já começam a surgir no Brasil ações trabalhistas propostas por motoristas desligados da empresa, que ficaram endividados ou reivindicando reembolso de despesas de manutenção e combustível, além de questões da legislação que caracterizam a relação patrão-empregado.
No USA, apenas uma ação trabalhista opõe 385 mil motoristas ao Uber, que teria oferecido um acordo de pagamento de US$ 100 milhões, rejeitado pelo juiz por resultar em valor insignificante para cada motorista. O montante da indenização pode chegar a US$ 850 milhões.