As famílias da Comunidade Remanescente de Quilombo Turé III, situada na divisa entre os municípios de Acará e Tomé-Açu, no nordeste do Pará, têm resistido nos últimos anos aos ataques, ameaças e assassinato de suas lideranças. 95v5y
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Reunião no Quilombo Turé III, em Tomé-Açu, Pará
Na manhã de 15 de abril, Nazildo dos Santos Brito foi encontrado morto em sua residência no ramal da Roda D’Água, no entorno do Quilombo Turé III. O quilombola foi assassinado na noite do dia anterior. O corpo de Nazildo Brito foi encontrado com marcas de tiros nas costelas e na cabeça. Além disso, objetos pessoais não foram levados, o que sugere a hipótese de execução.
O quilombola de 33 anos de idade já havia sido presidente da Associação de Moradores e Agricultores Remanescentes Quilombolas do Alta Acará (Amalquata). Ele era ameaçado de morte por denunciar crimes ambientais cometidos por latifundiários e madeireiras da região. Apesar das ameaças de morte, a liderança quilombola não desistia de lutar pelos direitos de sua comunidade.
Em 2015, Nazildo Brito participou da ocupação da empresa Biopalma da Amazônia, subsidiária da Vale, que visou denunciar o desmatamento ilegal e a poluição de agrotóxicos nos mananciais do município de Tomé-Açu cometidos por esta empresa. Veículos e tratores da empresa foram incendiados como forma de protesto contra os seus crimes ambientais.
A Biopalma chegou a processá-lo, sendo Nazildo Brito acusado dos crimes de ameaças, furto, invasão e turbação (perturbação).
Dias depois da participação na combativa ocupação, a casa da liderança quilombola foi vítima de uma tentativa de incêndio, mas o fogo foi evitado.
O irmão de Nazildo Brito e também liderança do Quilombo Turé III, Ananias Brito, de 28 anos, também tem recebido ameaças de morte por denunciar a invasão de latifundiários ao território da comunidade quilombola.
“Aqui a gente tem o problema das terras. Os fazendeiros ficaram com raiva da gente, já que eles achavam que as nossas terras eram terras deles”, denunciou Ananias Brito em entrevista à agência Amazônia Real.
De acordo com as denúncias de Ananias, ele e o irmão solicitaram auxílio ao Judiciário, mas não receberam qualquer tipo de proteção, nem mesmo a entrada no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos existente no estado.
“A gente tem até medo de falar sobre o assunto porque eles podem vir atrás da gente. Mas as ameaças são constantes. O Nazildo era ameaçado o tempo todo”, afirma Ananias em entrevista à mesma agência.
Nos últimos meses já são ao menos três lideranças quilombolas assassinadas no nordeste do Pará. Em Barcarena foram mortas duas lideranças da Associação dos Caboclos Indígenas e Quilombolas da Amazônia (Cainquiama): Paulo Sérgio Almeida Nascimento, no dia 12 de março, e Fernando Pereira, no dia 22 de dezembro do ano ado. Ambos denunciavam os crimes ambientais cometidos por mineradoras, como a Hydro Alunorte, e por latifundiários da região.
Ativista da T é indiciado
O ativista da Comissão Pastoral da Terra (T), José Amaro Lopes, foi denunciado pelo Ministério Público do Pará (MPPA) ao Judiciário por uma série de crimes, entre eles extorsão, esbulho possessório e lavagem de dinheiro, no dia 20 de abril. O pedido do MP será analisado pelo juiz Esdras Murta Bispo. Se a denúncia for acatada, o ativista se tornará réu.
No dia 13 de abril, o Judiciário havia negado o pedido de revogação da prisão preventiva solicitado pela defesa do ativista, que se encontra detido no Centro de Recuperação Regional de Altamira desde o dia 27 de março.
Como denunciado na última edição de AND, a prisão do ativista da T é resultado da intensificação da criminalização dessa luta no país por parte do velho Estado e das classes dominantes reacionárias, que buscam atacar as lideranças dos movimentos camponeses e de entidades e organizações que apoiam a luta pela terra.
As acusações contra o ativista tem por base uma “investigação” da Polícia Civil cujo principal depoente é Silvério Fernandes, presidente do Sindicato Rural de Anapu, organização que reúne latifundiários da região.