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A governabilidade tem sido proclamada por todos os gerenciamentos pós-regime militar para justificar a manutenção dos grupos de poder apojados às tetas do velho e apodrecido Estado brasileiro. As composições e rearranjos entre os diferentes grupos de poder das classes dominantes no gerenciamento do podre Estado às vezes tomam aspecto de intensa pugna. Ela é, nada mais nada menos, que a ante-sala de acordos e conchavos onde cada uma das partes, embora sujeita a perdas e ganhos conjunturais, assegura algum quinhão. Com a ascensão do oportunismo ao gerenciamento do Estado, as pugnas entre os diferentes grupos de poder das classes dominantes cumprem também o objetivo de encobrir e assegurar os interesses deste mais novo, representado por pelegos de múltiplas origens, embora tenham como ponto de convergência servir ao imperialismo e às classes dominantes nativas.
A recente disputa no Senado teve, exatamente, esta feição. O arquivamento dos processos contra Sarney e Artur Virgílio só não é motivo de decepção porque há muito o povo brasileiro não alimenta maiores expectativas nos "seus representantes". Os do Senado então, pouco ou nada lhes dizem respeito.
Funcionando sob a batuta de Luiz Inácio, a chamada base aliada composta de uma escroqueria ímpar na vida pregressa do semicolonial e semifeudal parlamento brasileiro, entrou em conchavo com a oposição de faz-de-conta para livrar as caras de Sarney e Virgílio.
Engana-se, porém, aquele que acha que o que estava em jogo eram as caras destes dois senhores oligarcas. Por trás das disputas estão os interesses de poderosos setores das classes dominantes.
Com a descoberta do pré-sal desencadeou-se uma verdadeira "briga de cachorro grande" entre as empresas petroleiras, as empreiteiras e os bancos para se apoderarem deste patrimônio do nosso povo. Pode-se medir o tamanho das ambições pelo fato de que mesmo antes da notícia da descoberta do pré-sal ser ada aos brasileiros, os ianques já anunciavam a reativação da 4ª. Frota e, agora, aumentam o número de bases militares na Colômbia e no Peru. Este aparato intimidatório visa a proteção de seus interesses junto aos gerenciamentos "flexíveis" do tipo Luiz Inácio.
O setor elétrico é outro alvo da disputa, como de resto tudo que está vinculado à infra-estrutura. Seus representantes dentro do Executivo e no legislativo atuam freneticamente para destinar parcelas cada vez maiores do orçamento para obras e encomendas.
Em editorial de 30 de agosto último, a Folha de São Paulo apontou a injeção do dinheiro público, via BNDES ou Fundos de Pensão, em setores monopolizados da economia. Afirmou o jornal que "nos últimos três anos, intensificou-se a formação de conglomerados, na maior parte das vezes por meio de operações que contaram com dinheiro ou aval do governo. Reconfiguram-se, desse modo, as regras do jogo, o poder econômico e o controle do capital em setores como alimentos, siderurgia, logística, energia, finanças e telefonia".
Ora, estes setores estão entre os que mais aplicam recursos nas campanhas eleitorais tanto para os cargos do Executivo quanto para o Legislativo. Na maior parte dos casos o lobista é o próprio deputado ou senador, ou o ministro ou, ainda, um burocrata de alto coturno. Quando não, os gabinetes de suas excelências servem de boa guarida aos agentes de seus amos.
O cruzamento da crise do Senado com a crise da Receita Federal tem, pois, tudo a ver com estas disputas pela ocupação de cargos nas altas esferas dos três "podres poderes". Os destituídos da Receita Federal denunciaram que havia uma orientação para aliviar a fiscalização dos grandes contribuintes, quando a Petrobras teria sido beneficiada através de uma manobra contábil. Isto, logicamente, trouxe boas repercussões no bolso dos acionistas da empresa, a maior parte no exterior. Em ano pré-eleitoral esses alívios são indicativos de mutreta pesada.
Mas, sendo o centro das disputas dentro do Senado, a peleja para revelar quem serve melhor ao imperialismo, à grande burguesia e ao latifúndio, as eleições presidenciais do próximo ano já estão com suas campanhas em aberto. As candidaturas já colocadas e as que estão por vir têm suas linhas de força amarradas nos monopólios. Ganhará o que mostrar-se mais servil e, como consequência, arrecadar mais contribuições.
Todo o alarido que a imprensa dos monopólios faz em torno das bandalheiras cotidianas é só o molho deste indigesto prato que as classes dominantes empurram no povo, goela abaixo. O mesmo pode ser dito desta oposição centrista de PSOL, PSTU, etc. Oposição de fancaria, avalista deste processo eleitoral farsante e espúrio.
Para eles, não está em questão, além de sua retórica socialisteira, qualquer transformação radical das arcaicas estruturas sociais do país e sequer mesmo uma reforma política que possa dar uma nova fachada ao decrépito Estado Brasileiro. O que eles querem é participar desta encenação de democracia proporcionada pelos dominantes e sonhar com o triunfo das urnas.
Temos repetido nesta página que enquanto as massas populares não forem capazes de intervir de forma organizada e independente no cenário da luta política, toda essa podridão seguirá ocorrendo em ciclos de pugnas e conchavos. A repetição destes ciclos porém engendra perigos.
As revoltas populares que estão ocorrendo, dispersas e atomizadas, mas numa reincidência crescente, parecem pequenos distúrbios e casos de polícia aos olhos de toda política oficial e seus partidos eleitoreiros. Não seria o rastilho de pólvora de uma situação revolucionária em desenvolvimento no continente e no país?
A propaganda de um programa democrático revolucionário e a organização crescente das massas populares, ainda que parte por parte, em torno desse programa mais que nunca está na ordem do dia. Atiçar a agitação no seio das massas na defesa de seu direito à autodefesa e reação violenta contra as ações repressivas do velho Estado, o desmascaramento da política do engano e da demagogia sem limites dos partidários da política oficial (situação e oposição), a luta pelo desmascaramento do novo peleguismo lulista das centrais sindicais em prol de desatar uma luta decidida da classe operária contra o sistemático corte de direitos e o apoio à luta combativa dos camponeses pobres pela terra conformará o a o a aliança dos trabalhadores da cidade e do campo e será a base do levantamento pela revolução democrática de novo tipo ininterrupta ao socialismo.