Cantor, compositor e instrumentista, o mineiro radicado em São Paulo, Cícero Gonçalves trabalha uma música regional de influências diversas. Juntando suas vivências no Vale do Jequitinhonha e as canções do rádio AM de sua infância com o que viu na capital paulista, Cícero cria a sua música e se prepara para gravar seu terceiro disco. 4i1e1c
— Nasci em Teófilo Otoni (MG), uma cidade que pertence ao Vale do Mucuri, mas logo mudei para o Vale do Jequitinhonha, lugar vizinho, e lá vivi até minha juventude. É uma região muito pobre, porém, onde acontecem muitas manifestações culturais. Foi lá que adquiri a base da minha cultura.
— No Jequitinhonha acontece o Festivale, que além de ser um importante festival de música, ainda inseriram artesanato e aquelas coisas típicas da região. E foi vendo o pessoal de lá fazer música que comecei a me interessar pelo assunto, isso desde criança — continua Cícero.
— Fora disso, como um menino do interior, cresci ouvindo rádio AM e isso também foi importante musicalmente em mim. Depois fui cursar agropecuária em um colégio agrícola em Salinas, no Vale também, ficando como interno. Mas lá tinha muita gente que também gostava de música.
Na década de oitenta, com os festivais, começou uma grande efervescência musical no Vale.
— Isso me incentivou a compor minhas primeiras canções. Participei de festivais, chegando a vencer. Fiz shows pela região e também em Belo Horizonte. Mas em 1988 mudei para São Paulo em busca de um espaço maior —diz.
— E foi interessante para a minha carreira essa vinda para cá, porque participei de alguns programas de televisão, de rádio, fiz shows e consegui gravar meu primeiro disco.
— A música do Vale tem pouca divulgação, por ser uma região pobre e do interior. Até as rádios lá são poucas, sendo necessário sair do Vale, vir para os grandes centros quando queremos conseguir uma divulgação maior, melhores chances — expõe.
Segundo Cícero, sua música é a que pessoas chamam de regional, mas acrescenta que com influência da música nacional e não somente do Vale.
— Considero uma mistura de várias tendências, com influência de tudo aquilo que considero bom. Meu primeiro contato com um instrumento foi ainda menino, com um violão que ficava mexendo como curioso. Hoje trabalho com a viola e gosto da influência da música do interior, aquela feita no sertão, pelo próprio sertanejo. Uma canção mais espontânea, digamos assim —explica.
Cantador do povo z4w6c
— Minha preferência é cantar a música popular, do povo, aquela que fala com simplicidade e que toca as pessoas com profundidade. Às vezes faço letras, mas em grande parte componho a música. Tenho também muitas parcerias.
— Não trabalho com temas específicos. Tem muito a questão da natureza nas minhas músicas, além do cotidiano, o romântico e outras coisas, está tudo inserido, misturado. Não dá para falar de uma coisa somente, prefiro ser um pouco mais aberto. O que vier no momento da inspiração a gente faz — continua.
A viola caipira que Cícero já havia tido contato quando criança no Vale, através das muitas manifestações da região, só veio a ser inserida no seu trabalho bem mais tarde.
— Ela entrou em minha vida na década de 1990, quando fui de férias para o Vale e participei da Primeira Cantoria de Francisco Badaró, com grandes violeiros. Acabei incorporando o instrumento na minha música e descobrindo que ela pedia exatamente a viola — conta.
— Quando voltei para São Paulo ei a estudar o instrumento como autodidata. Mas também tive aulas com o maestro Rui Torneze, da Orquestra Paulistana de Viola Caipira.
— Como costumo dizer, nessa época, década de 1990, vi que estava completamente livre para colocar o pé na estrada e viver de música, não tinha nem arinho para dar de comer, nada que me prendesse. Assim fui viajando, tocando em várias partes — acrescenta.
No momento Cícero participa de projetos culturais diversos, pesquisa e adapta clássicos da música popular, e se prepara para gravar seu terceiro disco.
— No momento estou começando a montar um repertório para fazer um novo disco ainda esse ano. Deverá ser gravado de forma independente, então estou com uns projetos para ver se conseguimos patrocínio para isso. Assim como os outros, deverá ser autoral — avisa.
— Costumo gravar algumas músicas de colegas, mas 90% é autoral, porque para mim é uma satisfação gravar minhas próprias músicas, uma realização.
— Fora isso, estou fazendo shows aqui em SP, geralmente nos espaços alternativos de cultura da cidade, e viajando pelo país também quando tenho a oportunidade — finaliza Cícero Gonçalves.
Contatos: (11) 95490-9033 e cicerogoncalves.blogspot.com