A PM do Rio de Janeiro já matou mais neste primeiro semestre de 2018 do que nos primeiros semestres dos últimos 15 anos, segundo estatísticas do próprio Instituto de Segurança Pública (ISP). E a matança de pobres segue avançando, inclusive em direção ao interior do estado. Desde o início de abril, policiais do 28º Batalhão de Polícia Militar fazem repetidas ações no Complexo Vila Brasília, no município de Volta Redonda, que já resultaram na morte de ao menos duas pessoas. Mensagens enviadas por moradores da região à redação de AND sugerem um estado de sítio que pode ter resultado em um número de mortos maior do que o indicado pelas informações oficiais. 5z1b5k
Banco de dados AND
Moradores queimam ônibus em repúdio à operação de guerra no Morro São João
— Eu pego meus filhos e coloco em casa sempre que ouço os fogos. Aqui na Brasília dois meninos desapareceram depois que a polícia entrou. O povo acha que a polícia matou e levou embora dentro do caveirão — diz uma moradora referindo-se ao veículo blindado da polícia.
Na zona sul da cidade do Rio de Janeiro, o clima também é de tensão. Entre os dias 21 e 24 de abril, PMs fizeram operações em várias favelas da zona sul da capital do estado. No dia 21, policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), do Grupo de Intervenções Táticas (GIT) e do Comando de Operações Especiais (COE) fizeram uma operação nos morros Chapéu-Mangueira e Babilônia desde o início da manhã. Segundo moradores, PMs entraram nas favelas atirando a esmo e atingiram um transformador, deixando parte das favelas sem luz durante todo o final de semana.
No dia 25 de abril, foi a vez da Rocinha, também na zona sul do Rio, ser atacada por policiais da mais letal tropa da PM do Rio, o Bope. Eles chegaram no início da manhã, quando milhares de trabalhadores e estudantes saíam do morro. Na localidade conhecida como Cachopa, as marcas de tiros nos muros e nas paredes das casas dão conta de um verdadeiro cenário de guerra.
— Eles entraram nas casas, quebraram o portão de um monte de gente, reviraram tudo. Se pelo menos falassem com respeito na hora de entrar na nossa casa. Mas não, xingam a gente de vagabunda, piranha, batem, humilham. Aqui é favela, mas antigamente a gente vivia em paz — diz uma moradora em comentário publicado na página Rocinha em Foco nas redes sociais.
No dia 27 de abril, em nova operação do Bope na Rocinha, na localidade Laboriaux, um homem foi baleado e o comércio teve que fechar as portas no início da tarde. Um debate com o tema “Política de drogas”, que aconteceria na associação de moradores com a presença do desembargador Siro Darlan, da Associação dos Juízes para a Democracia, teve que ser cancelado por conta da operação que tinha o suposto objetivo de combater o tráfico de drogas.
A revolta das massas com essas ações criminosas do velho Estado teve seu estopim neste mesmo dia, quando policiais da UPP do Morro São João, na zona norte do Rio, balearam duas crianças em uma operação no final da tarde. Revoltados, moradores bloquearam a avenida Marechal Rondon e incendiaram um ônibus da linha 254.
De acordo com informações divulgadas pela Secretaria Municipal de Saúde, uma das crianças foi atendida na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Engenho Novo e a outra foi encaminhada para o Hospital Salgado Filho, na zona norte da cidade. Segundo informações preliminares, ambas as crianças am bem, mas seguem em observação.