5º Conselho das Mulheres Guarani/Kaiowá 265u4y
Entre os dias 25 e 29 de junho, as mulheres Garani Kaiowá reuniram-se no 5º Conselho Aty Guasu Kunhangue Arandu Ka’aguy (Conselho das Mulheres), na Terra Indígena Sucuriy, no município de Maracaju, Mato Grosso do Sul. 12421l
Representantes da Liga dos Camponeses Pobres (L) e do Movimento Feminino Popular (MFP), sendo uma delas membro de um comitê de apoio ao AND, participaram como convidadas. Publicamos aqui extratos do diário de viagem das ativistas até a Terra Indígena Sucury.
Lutando junto 6g5v1g
‘Queremos jutiça! Queremos demarcação!’ 52b13
Chegamos à Terra Indígena no dia 26. As lideranças Guarani/Kaiowá que nos convidaram para o 5º Aty Guasu já aguardavam a nossa chegada.
Fomos muito bem recebidas.
A maior parte dos debates foi feita em língua indígena e tivemos, a princípio, um pouco de dificuldade para acompanhar as plenárias. Aos poucos fomos conhecendo outras convidadas. Estudantes, pesquisadoras, membros do Conselho Indigenista Missionário, Associação Juízes para a Democracia, representantes da Funai, agentes de saúde, indígenas e não indígenas também participavam como convidadas.
Os indígenas com idade mais avançada não falam o português ou falam com dificuldade em nosso idioma. Os mais jovens falam o português, porém durante as plenárias mantiveram a fala em guarani, como forma de resistência e manutenção da sua cultura. Há vários jovens indígenas estudando nas universidades da região.
No dia seguinte da nossa chegada, uma companheira indígena com quem havíamos nos encontrado no Rio de Janeiro durante o Congresso Intercultural de Resistência dos Povos Tradicionais do Maraká’nà ficou próxima de nós, traduziu grande parte dos debates e nos inteirou sobre o conjunto das atividades.
Homens de várias tribos também participavam das plenárias.
Uma reunião com a presidente da Funai, Maria Augusta Assirati, estava prevista entre as atividades do 5º Aty Guasu e, entre as plenárias, havia vários debates e organização das pautas de reivindicações das diversas aldeias que seriam apresentadas à Funai. Todas as reuniões eram precedidas por rituais culturais e religiosos, muitas jovens participaram de todas as atividades.
Tivemos a oportunidade de participar de uma dessas atividades culturais e, numa noite, dançamos com os indígenas ao redor de uma fogueira. Também tivemos a oportunidade de falar às mulheres e homens Guarani/Kaiowá.
Saudamos a reunião em nome das mulheres proletárias e camponesas. A companheira da L destacou a importância da união e luta dos povos indígenas e camponeses contra o inimigo comum: o latifúndio. Falou que assim como várias lideranças indígenas têm sido criminalizadas, perseguidas, torturadas e assassinadas, lideranças camponesas também têm sido alvo de hedionda campanha por parte do velho Estado burguês-latifundiário, suas forças de repressão e bandos de pistoleiros a mando do latifúndio. Destacou que a luta dos povos indígenas por território e a luta dos camponeses pela terra têm muitas semelhanças e que os povos indígenas e os camponeses são irmãos nessa luta. Saudou o Conselho das Mulheres Guarani/Kaiowá e desejou êxito nos debates e na luta. A representante do MFP falou sobre a importância das mulheres se organizarem e se unirem aos homens para lutarem juntos contra os opressores e exploradores. Destacou a importância do encontro das mulheres indígenas nesse momento de intensa luta pela retomada dos territórios desencadeada por vários povos e também de grandes protestos nas cidades e no campo, e que as mulheres tem um papel decisivo nessas lutas.
Em uma das plenárias, um representante do Conselho Indigenista Missionário falou sobre um grave problema nas aldeias: o crescente número de suicídios de indígenas. Em 2013, foram contabilizados 73 suicídios nas aldeias. Segundo a sua avaliação, o número de suicídios está diretamente relacionado com a questão do Território. Nas Terras Indígenas em que a proporção de terra distribuída por número de famílias é maior, há menos suicídios. Quanto menos terra, maior o número de mortes por essa forma. Ele usou o exemplo de uma área onde há maior quantidade de terras distribuídas entre as famílias em que não ocorreu nenhum suicídio para comprovar sua tese.
Presenciamos a reunião com a presidente e técnicas da Funai. Alguns indígenas, homens e mulheres, falaram em seu idioma e também em português, para que as representantes do órgão do governo pudessem compreender. Os indígenas que não falavam o português tinham suas falas traduzidas por um intérprete. Foram várias as denúncias e exigências apresentadas. No final, a representante da Funai apenas listou uma síntese das últimas atividades realizadas pelo órgão sem apresentar muitas soluções para as inúmeras demandas apresentadas pelos indígenas, sobretudo sobre o Território.
Durante essa plenária, ocorreu uma marcante manifestação dos jovens e crianças indígenas, que, com faixas e cânticos, se dirigiram à frente da reunião e apresentaram os protestos e reivindicações dos Guarani/Kaiowá, resgataram os nomes de seus mártires, denunciaram os ataques e agressões ao seu povo e levantaram o apelo dos povos indígenas pela demarcação imediata de seus Territórios.
Devido aos horários das agens de volta, tivemos que nos retirar da aldeia antes do encerramento do Conselho das Mulheres Guarani/Kaiowá. Mas antes, pudemos conversar um pouco mais com lideranças indígenas. Os presenteamos com bonés, bolsas e o calendário produzido pela L, além de algumas garrafas do mel e pimenta produzidos pelos camponeses de Pedras de Maria da Cruz, no Norte de Minas. Os indígenas ficaram muito satisfeitos com os presentes e retribuíram com um belo cocar, verdadeira obra de arte indígena.
Nos despedimos reforçando nossos melhores votos de êxito nas lutas, desejando vitórias nas batalhas pela conquista do Território para os Guarani/Kaiowá e para os povos indígenas.
ados alguns dias, recebemos a resolução final do 5º Aty Guasu Kunhangue Arandu Ka’aguy, realizado na Terra Indígena Sucuriy. Nela, as mulheres Guarani/Kaiowá fazem um balanço de seus debates sobre inúmeros e sérios problemas enfrentados pelas mulheres e homens indígenas sobre a educação nas aldeias, a saúde, a violência contra as mulheres indígenas e a questão da luta pelo Território.
Com grande alegria vimos que é feita referência a nossa participação: “Fez-se presente, a Liga dos Camponeses Pobres (L) e o Movimento Feminino Popular, que, solidários ao movimento indígena, partilharam suas lutas e conquistas”.
Aproveitamos essa oportunidade para saudar mais uma vez, desde as páginas do AND, as bravas guerreiras e guerreiros Guarani/Kaiowá.