Latifundiários envolvidos em conflitos de terra em PE e AL, segundo denúncias encaminhadas à Redação e investigadas pelo jornal AND, teriam um vasto histórico possivelmente criminoso. Os crimes dos latifundiários envolveriam “trabalho escravo”, fraudes, crimes fiscais e ambientais. Apesar das provas, eles não são punidos pelo velho Estado ou são inocentados através de indenizações. 593d63
Um dos criminosos seria do Grupo EQM e da Usina Utinga Leão. Ele teria estado por trás da reintegração e posse que expulsou, em outubro de 2024, mais de 700 famílias de terras abandonadas pela usina no município de Messias, interior do AL. Os camponeses viviam nas terras desde 2008, já tinham construído casas de alvenaria e tinham cultivos de coco, laranja, caju, manga, acerola, graviola, macaxeira, milho e jaca. Também tinham vacas (para a produção de leite e queijo), cabras, perus, galinhas e peixes. O despejo desencadeou uma crise na Cidade de Messias, ao lançar centenas de famílias camponesas nas ruas, sem ter onde morar, nem com o quê trabalhar.
O AND apurou a história do referido e descobriu uma série de possíveis crimes nunca devidamente apurados e punidos. Em 2005, um contingente de 1.003 trabalhadores teria sido encontrado na Destilaria Gameleira, do grupo EQM, em situações “próximas a um estado inumano”, conforme descreveu a auditoria fiscal ada pela reportagem. A violação de direitos dos trabalhadores também teria ocorrido em AL, em um caso vinculado à Usina Utinga Leão. A empresa não pagou salário para mais de mil famílias. Processada, foi obrigada pelo MPT a pagar R$ 7 milhões em salários atrasados, mas, as famílias ainda aguardam o pagamento da remuneração.
Em 2010, a Utinga Leão esteve no centro de outro escândalo, quando uma área da usina desapropriada pela Prefeitura de Rio Largo (AL) foi vendida para uma construtora por R$ 700 mil (R$ 0,28 o m²), apesar de ser avaliada em R$ 30 milhões. Segundo as denúncias, os usineiros, ligados ao tal , combinaram a desapropriação e a venda abaixo do valor com a Prefeitura, para, depois, lucrar com a venda do terreno para um empreendimento imobiliário. As famílias ficaram abandonadas pelo Estado. O caso ainda tramita no TJ-AL.
O Grupo EQM enfrenta acusações de fraudes bancárias e esquemas corruptos. O teria sido condenado, em 2023, pela Justiça Federal de Recife, a 9 anos de prisão por gestão fraudulenta no período em que era diretor-superintendente do Banco Mercantil. Entre 1990 e onde 1995, ele teria liderado um esquema que envolveria desvio de recursos, apropriação indevida de dinheiro e envio de informações contábeis supostamente falsas ao Banco Central. O esquema também incluiria empréstimos suspeitos, que beneficiariam o , em valores superiores a R$ 3,8 milhões.
Grileiros e laranjas no PE 1h215y
No Estado de PE, algo similar ocorreu no conflito da família a da Agropecuária Mata Sul S/A, versus os posseiros de Barro Branco, onde, camponeses descendentes de antigos trabalhadores de uma usina da poderosa família local, aram a viver naquelas terras, após a falência da usina. Os conflitos na região se agudizaram a partir de 2015, quando o Judiciário brasileiro começou a leiloar as terras da Usina para quitar dívidas da família proprietária com grandes empresários e banqueiros.
Entre abril de 2003 e novembro de 2004, um integrante da família teria deixado de rear R$ 600 mil em contribuições previdenciárias descontadas dos salários dos empregados da sua empresa, Usina Estreliana. Uma outra dívida trabalhista e previdenciária, no valor de R$ 400 milhões, foi deixada pela família na empreiteira Interiorana Serviços e Construções Ltda. O referido integrante da família proprietária teria dito que não pagou, por dificuldades financeiras, mas, a versão foi desmentida pelo MPF.
A família proprietária também é conhecida por um grande esquema com o uso de funcionários de fachada, os “laranjas”. O plano funciona assim: os latifundiários, para fugir da dívida com os trabalhadores, decretam falência dos próprios negócios e os vendem abaixo do preço do mercado. Eles acionam laranjas, ligados à família, para comprarem as terras vendidas abaixo do preço do mercado. Os laranjas comprariam as terras e exigiriam a reintegração de posse, com a expulsão dos camponeses da região. Isso teria ocorrido com os Engenhos São Gregório e Alegre I, adquiridos pela empresa Negócios Imobiliários S/A, por um preço muito abaixo do padrão no mercado, segundo o MPF. Depois da compra, os latifundiários teriam exigido a expulsão de 103 famílias camponesas que vivem há mais de 20 anos nos mesmos três engenhos.
A família teria um histórico de crimes violentos, como o assassinato do camponês Pedro Bruno, em 2003, em meio à conflitos de terra no Engenho Pereira Grande. O clã também é acusado de envenenar poços de água dos posseiros em Barro Branco, intimidar os camponeses com pistoleiros e drones e promover tentativas de expulsão, através de milícias privadas armadas. Uma delas ocorreu no final do ano ado, quando um bando do movimento intitulado “Invasão Zero” teria tentado expulsar os posseiros, mas teria sido repelido pela resistência supostamente armada, de autodefesa dos camponeses, apoiada pela Liga dos Camponeses Pobres (L).