Escravidão contemporânea 144j29

Escravidão contemporânea 144j29

A morte do jovem congolês Moïse Kabagambe, de apenas 24 anos, tem fortes indícios de crime por motivações de classe e com atuação de milícias. No Rio de Janeiro, é comum que onde convirjam abundante circulação de dinheiro, turismo e comércio operem tais forças, se não para extorquir diretamente os comerciantes, para oferecê-los “segurança”. Ato contínuo, a “segurança” se estende também aos funcionários submetidos a relações de trabalho estranhas à norma. 3y1e2x

Moïse, segundo sua família, foi cobrar duas diárias que não recebera, no valor de R$ 200. Ele não era contratado e tampouco ganhava por mês, mas por dia, como garçom de quiosques. É quase regra que em tais diárias a jornada de trabalho extrapole 12 horas. Atrasos nos pagamentos ocorrem, como mostra o caso de Moïse, e logo se transformam em trabalho gratuito.

Parentes de Moïse, após as primeiras declarações à imprensa nas quais revelaram o real motivo da ida dele ao quiosque na noite de seu martírio, foram por três vezes abordados por policiais militares em tom intimidatório. O dono do quiosque para o qual o congolês trabalhou é cabo da Polícia Militar.

Como se vê, tudo indica que operam esses dois elementos no caso de Moïse: o que chamam de “escravidão moderna” e o uso da força para mantê-la. A escravidão dos tempos coloniais e regenciais terminou formalmente, mas as bases sobre as quais se assentam as relações de trabalho aviltantes não desapareceram. São elas o latifúndio ainda intocado, responsável histórico por alimentar o comércio de africanos escravizados na América, e a dominação do imperialismo, herdeiro das riquezas obtidas através desse comércio pelas potências colonialistas. A prevalência dessas bases no Brasil, em pleno 2022, impede, no plano econômico, o desenvolvimento cabal da nação e a elevação das condições de vida das massas trabalhadoras e promove, no plano ideológico e cultural, a hegemonia do racismo – sendo as transgressões contra os pretos algo tolerável, devido à herança material e cultural do latifúndio escravagista-feudal nunca destruída – e da cultura feudal, em geral, no trato dos empregadores com os trabalhadores.

Moïse, sendo um estrangeiro africano, sofreu com particular crueldade essa realidade, agravada, portanto. Basta ver suas relações de trabalho: jornada aviltante, trabalho por diária e remuneração não paga, que ao serem questionadas levou-o à morte.

É, por isso, mistificador não falar de toda a base econômica do caso, colocando genericamente como crime racista. Claro que ali opera o racismo, mas há algo além. Falar apenas disso é apagar o caráter de classe e nublar a visão das massas para os reais responsáveis pela reprodução da desgraça cotidiana dos trabalhadores, principalmente os pretos, maioria do proletariado brasileiro. Não à toa, assim noticiam habilmente os monopólios de imprensa, com o concurso do oportunismo eleitoreiro. Ou agora a Rede Globo agrega o campo revolucionário de combate ao sistema capitalista, como dizia um certo “filósofo” de extrema-direita?

É preciso sair do campo subjetivo dos costumes, onde sorrateiramente a grande burguesia manipula as massas populares e as conduz frequentemente ao sectarismo identitário, e ir para o campo objetivo da luta de classes, onde se pode derrotar tanto as classes dominantes, como sua ideologia putrefata. Do contrário, outros Moïses serão vitimados pelo regime burocrático-latifundiário imperante, até hoje, em nosso país.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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