Extermínio policial em 2020 366b5n
O ano de 2020 se encerrou com 1.239 assassinatos cometidos exclusivamente por agentes de repressão somente no Rio de Janeiro. O número inclui mortes de responsabilidade dos policiais militares, civis, e outros “agentes de segurança pública”.
Terceiro ano mais letal da década
A taxa de mortes em decorrência de intervenção estatal do ano que se iniciou a pandemia do novo coronavírus no Brasil fica atrás somente dos anos de 2019 e 2018 (com 1.814 e 1.534 mortes, respectivamente), em um acompanhamento feito desde 2003. Os dados são do Instituto de Segurança Pública (ISP).
A cada cem mortes violentas no Rio, 25 foram causadas diretamente pela Polícia Militar ou Polícia Civil. Uma média de 3 mortes por dia. Uma das razões para uma queda momentânea nos casos a partir, sobretudo,de junho, é que nesse mês começou a valer uma liminar do STF que visava restringir estas operações.
A decisão do ministro Edson Fachin veio após uma série de casos de assassinatos praticados pela PM durante operações que rolavam mesmo em meio à primeira onda de Covid-19. Ali, o estado do Rio de Janeiro era uma das primeiras cidades do país a ver transcorrer o completo caos no sistema de saúde resultando em centenas de mortes diárias. A este genocídio premeditado veio se somar um outro genocídio, mais antigo, a violência policial.
PM promoveu extermínio durante entrega de cestas
João Vitor da Rocha, 18 anos, foi um dos jovens assassinados. O jovem morreu na Cidade de Deus no exato momento em que voluntários da Frente Cidade de Deus – Frente CDD realizavam a entrega de 200 cestas básicas durante o fim de tarde. O caso desse adolescente ocorreu somente dois dias após João Pedro Matos, de 14 anos, morrer em outra operação conjunta das Polícias Civil e Federal em outra parte da região metropolitana, São Gonçalo.
A decisão (que autorizava operações policiais na pandemia somente “em casos absolutamente excepcionais”, devidamente justificadas por escrito pela autoridade competente e comunicadas ao Ministério Público estadual), contudo, nunca foi cumprida em sua plenitude.
Como consequência, nos meses de outubro, novembro e dezembro, foram vistos os patamares habituais de violência policial. Com média de 101 pessoas assassinadas por policiais por mês, a população pobre das favelas e bairros pobres do Rio de Janeiro seguiu sendo vitimada na guerra contra o povo praticada pelas forças repressivas reacionárias.
Ainda foram registrados, em outubro de 2020, o dobro de operações em toda região metropolitana do RJ em relação ao mês anterior (de 19 para 38). O número de mortos foi de 30, seis vezes maior que o de setembro e equivalente à soma dos quatro meses anteriores.
O mês de dezembro foi o mais letal: foram registradas 368 mortes, destas 79 foram causadas pela polícia. O que resulta que, nesse mês, a cada 5 mortes violentas, a PM foi responsável por 1.
Guerra contra o povo
A letalidade policial do Rio, no ano de 2020, ficou 23% acima que a do Estados Unidos (USA). Somente à título de comparação, o país norte-americano, que viu as bases de seu secular sistema imperialista de opressão racial tremerem frente aos gigantescos protestos que tomaram todo o país após o brutal assassinato de George Floyd, conta com 1.004 mortos pela polícia para uma população de 328 milhões de habitantes. Enquanto o Rio de Janeiro encerrou o ano com a marca de 1239 mortos por policiais para 17,4 milhões de habitantes (incluindo não só a região metropolitana, que é onde se concentra a maior parte das operações policiais, mas sim todo o estado).
A enorme taxa de mortos pelos agentes de repressão impressiona ainda mais quando comparada com o número de policiais mortos. 65 policiais (militares e civis) foram mortos no ano de 2020, contrastando com os 1.239 assassinatos praticados pela instituição.
Violência policial se repete por todo país
A PM do Rio não foi a única a atingir elevados níveis de assassinatos de civis. Em São Paulo, registraram-se diariamente 2 mortes feitas pela PM. Nesse estado, o número total de mortes ficou em 814.
Tal escancaramento da atuação das policias em todo o Brasil, mesmo em meio ao contexto de genocídio em curso da pandemia da Covid-19, não é algo novo. É o continuado processo em curso desde sempre no nosso país. E representa, ainda, uma escalada da violência reacionária contra as massas das favelas, pretas e pobres do Brasil.