Editorial: Disparada ao caos social 5r4p20

Editorial: Disparada ao caos social 5r4p20

A situação da Pátria segue em sua marcha desenfreada para a crise sem precedentes e em todos os campos, e as massas populares, acossadas pela piora de todas suas condições de sobrevivência e crescentemente desiludidas com a possibilidade de viver dignamente sob este regime, vão despertando da letargia e vão escavando à mão uma saída. g591p

Apenas nos três últimos anos, o preço da cesta básica em São Paulo – onde é mais cara – subiu 48,3%, isto é, aqueles alimentos essenciais para a sobrevivência, que antes custavam  R$ 482,40 em fevereiro de 2019, preço já alto considerando o salário mínimo, ou a R$ 715,65 no mesmo mês de 2022. Só o óleo de soja aumentou 153%; o café, 88%; a carne bovina subiu 75%. Em 2019, o trabalhador que vivia com salário mínimo comprometeu, em média, 45,09% dele com a cesta básica, enquanto que, em fevereiro de 2022, ou a comprometer sinistros 56,11%. Nota-se: a alta da cesta básica é 20% maior do que a da inflação acumulada do período.

Trata-se, indiscutivelmente, de um retrocesso, de um grande salto para 30 anos atrás, que pôs fim a toda a ilusão pequeno-burguesa de estabilidade dentro do regime de escravidão no qual vivemos no Brasil. É pior se considerarmos que a situação de 30 anos atrás já era um retrocesso comparado às décadas anteriores, e assim sucessivamente. Essa carreira desenfreada para o caos econômico e a miséria é uma lei do regime que impera no país. Não porque quis um ou outro governo – embora sejam todos eles sucessivos governos de turno culpados, à medida em que prosseguiram a política de entrega total da Nação à sanha do imperialismo, dos monopólios do capitalismo burocrático atrelados a esse e ao latifúndio, sustentáculo de ambos. A desgraça imperante em nosso país não se trata de uma falta de vontade do eleito da vez; é resultado direto e necessário, inevitável, dessa ordem de coisas, só alterável com uma Revolução. Assim está posta a questão pela realidade.

Tentando contornar a inflação, Paulo Guedes – o “ultraliberal” que hoje age mais como um prestante de Bolsonaro em sua demagogia eleitoreira de controlar os preços dos combustíveis – só sabe fazer aumentar a taxa básica de juros, cujo efeito para a inflação tem sido zero, mas, por sua vez, tem sido bastante útil para aumentar a quebradeira das pequenas e médias empresas, sufocar as já esfarrapadas pequena e média economias camponesas e alargar a derrama da renda nacional em benefício da oligarquia financeira internacional.

Tudo isso complica ainda mais a situação de Bolsonaro, que vê fenecer seu capital político pessoal, embora, deva-se dizer, a tendência é o fortalecimento crescente da extrema-direita – especialmente no seio das Forças Armadas reacionárias e forças policiais auxiliares – com ou sem Bolsonaro à cabeça. Fato é que Bolsonaro nunca governou, e quando afirma isso, ele tem razão. Primeiro, foi feito refém sob a Espada de Dâmocles pelos generais golpistas, para não ver seus filhos presos por se lambuzarem no ilícito; depois, para não sucumbir diante das pressões, falta de resultados econômicos e fracassos em suas iniciativas golpistas, como um bonifrate, vendeu-se de corpo e alma a Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto e toda a corja do mal chamado “centrão”, escolada em utilizar o velho Estado em seu proveito. Esses senhores souberam usar e abusar de Bolsonaro. Casos de corrupção, até então escondidos, vieram à tona com extraordinário descuido. Hoje, o presidente ultrarreacionário cumpre função de histrião, e nada mais.

Cada movimento de Bolsonaro, o Fraco, foi pensado para provar diante das massas a necessidade de um golpe comandado por ele. Sua consigna é: “Eu sou o chamado por deus a resolver os problemas da Nação, mas não é possível governar!”. De fato, ele provou – e isso é um grande serviço para a revolução – que não é possível governar contra a vontade do núcleo-duro do establishment das classes dominantes (os seus círculos mais poderosos). Mas, cada vez menos as massas populares creem que ele seja diferente dos demais (haja vista pesquisa do Datafolha, de fim de março: para 68%, Bolsonaro tem culpa pela alta dos combustíveis). Nisso tem residido sua desgraça. E talvez, não o deixarem governar tenha sido para ele o menos pior, pois, se o deixassem, a hecatombe seria de proporções apocalípticas e não haveria a menor dúvida, às massas, sobre o papel que está cumprindo.

Isso não pode significar, obviamente, que ele já nada vale. A dinâmica eleitoral, as manobras e os factóides podem até ressuscitar defunto – e ele não está morto, nem física e nem politicamente.

Por fim, é preciso anotar que a desmoralização de Bolsonaro até aqui é tão significativa como a que outrora sofreu o oportunismo após 13 anos à cabeça do velho Estado. Um suposto contrário do outro, após arem pelo governo, mostraram ser idênticos na essência. O mesmo programa econômico e repressão, diferenciando-se apenas na forma como imaginam dominar as massas – um, o regime militar; outro, uma falsa democracia civil decrépita.

Significaram, ambos os casos, novas frustrações para as massas populares. Não que se deva desejar as frustrações, mas todos sabem que a frustração é resultado inevitável de um fato anterior – a ilusão – e, portanto, serve como motor para superar e desembaraçar-se das ilusões. Agora, para que não haja novas e novas ilusões, seguidas de novas e novas frustrações, deve intervir decidida e o quanto antes aquela força que pode angariar a confiança das massas, aprender delas e conduzi-las a realizar todas as suas aspirações. Há 100 anos de sua fundação, cabe ao partido revolucionário do proletariado reerguer-se do lixo da capitulação revisionista e cumprir essa obrigação. Que ele a cumpra.

 

 

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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