Editorial – Combater o bom combate, eis a questão! 4t16

Editorial – Combater o bom combate, eis a questão! 4t16

Na noite de 25 de outubro um novo protesto pelo e livre e por melhorias nos transportes públicos em São Paulo chamou a atenção e ganhou destaque no monopólio da imprensa. Não pela legitimidade incontestável do protesto, mas porque nele o coronel da PM Reynaldo Rossi levou uma sova e lhe tiraram a arma. 2v435g

O monopólio dos meios de comunicação, ávido por qualquer fato que possa utilizar para criminalizar ainda mais os protestos populares, não perdeu tempo e exibiu em todas as suas primeiras páginas o episódio envolvendo o coronel, bem como suas surradas declarações, repetidas à exaustão, de que “a maioria deve impedir a penetração de minorias violentas nos protestos legítimos”.

Depois da fase da negação de que os protestos eram legítimos, o monopólio já há algum tempo se vale desse discurso, para separar o protesto “bom” do “mau”, ou seja, tratando a violência nos protestos como coisa de “bandidos”. Para isso, concorre uma confluência notável desde o próprio monopólio da imprensa, ando pela polícia e os oportunistas que gerenciam o velho Estado até aos oportunistas que simulam “oposição” ao governo.

Dilma e sua ministra dos “direitos humanos”, Maria do Rosário, se manifestaram em uma rede social na internet nos exatos e mesmos termos de Alckmin e Serra, se “solidarizando” com o coronel e criminalizando as manifestações. Coincidência? Não, apenas prova a mais de que são da mesma laia e de que quando se trata de defender os interesses das classes dominantes reacionárias são capazes e justificam as piores atrocidades. Afinal, quem foi mesmo que enviou tropas federais para reprimir protestos contra a desnacionalização do petróleo no Rio de Janeiro?

A quem observa os protestos com o mínimo de senso crítico, causa estranheza a descrição da cena como se o coronel tivesse sido abandonado indefeso pelos seus comandados durante uma “negociação” com “vândalos e bandidos”, como quer fazer crer a PM e o monopólio da imprensa. Terá sido uma daquelas manifestações de soberba militar que teria feito o coronel crer que era inatingível? Estamos longe disso, embora haja soberba de sobra entre polícias e os gerentes do velho Estado.

De fato, é flagrante até ao espectador mais desatento a absoluta desproporção entre as polícias e suas tropas de choque de todo o Brasil e os manifestantes, por maiores que sejam os protestos. De um lado indumentárias àla robocop, bombas de gás lacrimogêneo, de efeito moral, balas de borracha, cassetetes, armas de choque, carros blindados, cavalos, helicópteros e toda parafernália bélica; de outro, jovens com escudos de madeirite, paus, pedras, lixo e, vez ou outra, coquetéis molotov.

Ao mesmo tempo, a maneira como são tratados os manifestantes durante os protestos não inspira a mais mínima compaixão entre os que derramam lágrimas pelo coronel Reynaldo. Afinal, é impossível contabilizar quantos foram espancados pela polícia, alvejados por todo tipo de arma “menos letal”, ficaram cegos, aram por revistas humilhantes, sofreram cortes, foram presos, obrigados a ficar descalços, tiveram cabelo raspado, permaneceram em cubículos imundos e submetidos a toda sorte de maus tratos dispensados pelos gendarmes desse Estado fascista, enquanto a “justiça” adiava por todas as manobras sua soltura, bem como seu reconhecimento como presos políticos.

Foi e é assim no Brasil todo desde junho. É assim e pior até com os operários que se rebelam nas grandes obras. Com o movimento camponês combativo há o agravante de assassinatos à luz do dia com a conivência do velho Estado, tal como nos morros e periferias das grandes cidades, onde os pobres são tratados como lixo pelas forças da repressão. Ou alguém já se esqueceu de Amarildo, cujo assassinato cometido por policiais ganha a cada dia mais detalhes macabros? Ou do jovem Douglas Rodrigues, de 17 anos, assassinado por um policial com um tiro no peito menos de 48 horas depois que o coronel levou seu corretivo?

E enquanto toda a canalha treme, incapaz de deter a juventude rebelada com incremento da repressão, soma-se à escalada de criminalização demente aos manifestantes a tática da razia e prisão em massa para tentar conjurar os esperados protestos da copa do mundo, deixando o máximo de ativistas com a espada suspensa sobre suas cabeças. Contudo, essas massas vão tomando corpo e forma, coagulando mais e mais compreensão e consignas políticas, se forjando nos combates com a repressão e se preparando para as grandes batalhas futuras pela derrubada completa do velho e construção do novo.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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