Dias de sol e fúria da juventude rebelada 2y162j

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Dias de sol e fúria da juventude rebelada 2y162j

Quebra-se o silêncio do lado esquerdo da rua Rompe o sol no horizonte Os raios invadem o lado esquerdo da rua A liberdade se anuncia Treme o lado direito da rua” 4n4e3s

Versos do poema Treme o lado direito da rua,
de Manoel Coelho Raposo.

Numa mobilização popular não vista há mais de duas décadas, Belo Horizonte (MG) vive dias de sol e fúria da juventude rebelada. Na última quinzena de junho mais de 300 mil pessoas na capital, e outras milhares em dezenas de cidades mineiras somaram-se aos milhões que protestavam em todo o país em uma explosiva e espontânea revolta popular.

Desde o dia 15 de junho, os protestos não cessaram. Seja com grandes manifestações como a de 200 mil em 22 de junho ou a de cem mil no dia 26, ou com protestos localizados na Região Metropolitana, nos bairros proletários, onde milhares de famílias trabalhadoras aram a bloquear rodovias e avenidas exigindo melhor transporte, arelas para pedestres, etc.. Foi assim que o povo partiu decidido para a luta exigindo seus direitos mais elementares e tão pisoteados pelos sucessivos governantes das prefeituras, governos de estados e governo federal que se revezam na arte dos desmandos, corrupção e violência contra o povo.

Além de todas as razões que levaram ao explosivo movimento de massas em todo o país, em Belo Horizonte – assim como no Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador e outras cidades sedes de jogos da Copa das Confederações – o povo teve mais uma razão para protestar: contra o servilismo da gerência Dilma/PT/PMDB/PSB/pecedobê diante das absurdas imposições da Fifa. Durante os jogos, um raio de 3 km no entorno do estádio Mineirão era considerado “território Fifa”, garantido por milhares de policiais militares, cavalaria, carros blindados assegurados pelo governador Anastasia e pelo prefeito Lacerda, e ainda com reforços da Força Nacional e exército, enviados pelo governo federal.

A reação afia as suas garras 1p44n

Em 24 de junho, gerentes estaduais e municipais fizeram uma revoada atabalhoada a Brasília a fim de concertar um plano emergencial de medidas cosméticas para tentar aplacar o crescente protesto popular e pedir reforços para repressão às manifestações.

“Eu espero que, na próxima manifestação, a PM prenda mais. Prendeu muito pouca gente. A PM não está usando toda a força que tem, inclusive não está usando cassetetes. A estimativa é que existem 500 vândalos e o que falei hoje para a segurança é que é preciso prender mais”, declarou Márcio Lacerda, que ocupa a gerência municipal em Belo Horizonte, pedindo “tolerância zero” contra os manifestantes.

Às vésperas do dia 26 o comando da PM mineira anunciou a preparação de um “grande” aparato com mais de cinco mil homens. Ameaçou e foi à TV recomendar às mães que não permitissem que seus filhos particiem dos protestos.

O governo federal enviou tropas do exército e da Força Nacional que ficariam acampadas no campus da UFMG, localizada ao lado do Mineirão. O repúdio dos estudantes, professores e funcionários à presença militar no campus e a ocupação da reitoria por um grupo de estudantes fez com que as tropas fossem retiradas da universidade.

Além disso, o prefeito Márcio Lacerda decretou feriado municipal e cancelou o show com telão montado no Centro da capital em negociatas com a Globo, tudo no propósito de esvaziar o Centro e fracassar o protesto. Algumas das bandas contratadas para estes shows nos dias de jogos, como Jota Quest, já haviam recusado apresentar-se em repúdio à repressão contra os manifestantes.

“Eu vou no bloco dessa mocidade” r245z

Oportunistas e Anastasia (PSDB) fazem acordo para reprimir e mudar o trajeto do protesto s5t4e

Já pelo lado do povo, era grande a expectativa para o protesto do dia 26 de junho, data do jogo Brasil e Uruguai no Mineirão. Mais uma vez a reportagem de AND acompanhou o ato desde a concentração na Praça Sete e percorreu o trajeto de aproximadamente 10 km até próximo do Mineirão junto aos manifestantes.

Já na concentração instrumentos de percussão marcavam o ritmo das palavras de ordem. O clima entre os manifestantes era de confraternização, de vitória da grande mobilização popular. O protesto avançava. Ativistas da Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo (FRDDP) distribuíram milhares de cópias de um manifesto que afirmava: “O Brasil precisa é de uma Grande Revolução!”. Populares saudavam os manifestantes e repetiam as palavras de ordem. Uma criança segurando um cartaz convidava: “vem pra rua!”.

E assim o mar de gente avançava. Um bloco de estudantes e trabalhadores erguia faixas com os dizeres “Abaixo o Estado genocida e seus gerentes antipovo e vende-pátria!” e “Viva a Revolução de Nova Democracia”, seguidos por centenas que entoavam canções revolucionárias. O protesto seguia pela Avenida Antônio Carlos e se aproximava da Avenida Abrahão Caram, que dá o ao Mineirão.

Traição do oportunismo 154i25

O que muitos não sabiam é que, no dia anterior a essa manifestação, travestidos de “Assembleia Popular Horizontal” e “Comitê Popular dos Atingidos pela Copa”, PCR, PSTU, PSOL e outros grupos oportunistas, arvorando-se em representantes dos manifestantes, reuniram-se no palácio do governo com Anastasia (PSDB) e, aleivosamente, compactuaram um acordo, determinando itinerário e uma série de condicionamentos à manifestação. O memorando que caiu nas redes mostra até onde essas ratazanas sedentas de protagonismo podem chegar. Vilanias do tipo: “a resposta da Polícia Militar deve se limitar àqueles que agredirem a Polícia” e a criação de “uma comissão sintética de acompanhamento das manifestações composta por um membro mediador da própria manifestação e um membro da Polícia Militar” expressam muito bem a ideologia desses socialistas de palavras e reformistas nos fatos. E ainda se põem a choramingar pelo fato de manifestantes repudiarem suas bandeiras eleitoreiras, fatos que ridiculamente responderam acusando jovens iniciantes na luta de serem fascistas.

Cumprindo à risca o acordo com o governo e a polícia, esses oportunistas postaram um carro de som na cabeceira e se desviaram da rota do Mineirão arrastando uma parcela menor dos manifestantes. Mas isso não era suficiente para eles, que organizaram um vergonhoso cordão de isolamento, com gente que até então se achava acoelhada e não dera as caras nas manifestações, notórios puxa-sacos de Dilma como os do MST e os do sócio da corrupção das copas, pecedobê, que portavam bandeiras da CTB, etc., na pretensiosa e fracassada intenção de impedir os manifestantes de se dirigirem ao Mineirão.

“Rumo ao Mineirão!” 23476p

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“O Mineirão é nosso!”, gritavam os manifestantes que desconheceram o cordão de pelegos, removendo-o de safanão e avançaram postando-se diante da barreira de policiais e grades, agitando palavras de ordem e exigindo agem.

Justamente no momento em que o comandante geral da PMMG, o coronel Márcio Sant’Ana, em um carro de som e em tom professoral, proferia que “paz é a gente que faz”, policiais arremessaram bombas de gás e de efeito moral contra a multidão que protestava.

À primeira explosão, milhares de manifestantes apressaram o o e se uniram àqueles que enfrentavam a repressão policial. A cada avanço das massas, nova chuva de bombas e disparos de bala de borracha. Centenas de policiais que ocuparam uma escola e a utilizavam como base foram alvos de pedras. A juventude devolveu muitas bombas de gás arremessando-as contra os policiais. Pouco a pouco, pedaços da barreira de grades montada pela PM eram arrancados por grupos de jovens com os rostos cobertos.

Operário morto durante protesto 4s3a2b

Uma nuvem de gás dificultava a visão e a respiração e mais bombas eram arremessadas pela PM quando um corpo caiu bem próximo de nossa reportagem. Era Douglas Henrique de Oliveira Souza, um jovem operário metalúrgico de 21 anos que teve sua vida violentamente ceifada quando tentava escapar do ataque das forças de repressão.  Ele caiu na Avenida Antônio Carlos de uma altura de mais 5 metros pelo vão central do viaduto José Alencar quando corria para se defender das bombas.

Presenciamos o imediato socorro prestado pelos médicos e estudantes de medicina voluntários e bombeiros. Douglas perdeu muito sangue e massa encefálica e estava desacordado.

O povo ajudou como pôde, isolou o local para o atendimento. De repente, aplausos. Socorristas chegaram com uma maca. Logo em seguida, vaias e gritos de protesto: três policiais paramentados do GATE vieram juntos. “Assassinos!” e “Polícia, isso é culpa sua!” bradaram milhares de vozes revoltadas.

Douglas faleceu na madrugada do mesmo dia, após longas horas de cirurgia e foi enterrado no dia 28 no cemitério Parque Santa Rita, em Curvelo (MG). No próximo dia 10 de julho, organizações populares preparam um ato que marcará o rebatismo popular do viaduto de onde caiu o jovem lutador. O viaduto receberá o nome de Douglas.

Além deste jovem, pelo menos outras cinco pessoas que participaram de protestos em BH nas duas últimas semanas caíram desse mesmo viaduto durante ataques policiais, ferindo-se gravemente.

Noite de fúria 27146s

O protesto prosseguiu e a juventude enfrentou a repressão com ódio redobrado. Uma barricada em chamas foi montada na Avenida Antônio Carlos. Bancos e concessionárias de veículos tiveram seus vidros despedaçados e seus carros serviram de combustível para novas fogueiras que arderam como a revolta do povo.

Uma mulher abriu a porta de uma pequena loja e se ajoelhou pedindo aos manifestantes que não queimassem seu local de trabalho. Os chamados “vândalos” a escutaram e se retiraram. O ódio juvenil não era dirigido aos trabalhadores ou aos pequenos pontos comerciais.

Recebemos a informação de que a PM também reprimia com brutalidade os manifestantes divididos pelos oportunistas que aram direto até a orla da Lagoa da Pampulha.

Após quase nove horas de protesto, os manifestantes começaram a se retirar da região do Mineirão. Não havia transporte público. Nossa reportagem retornou com um grupo que se dirigia à Praça Sete.

Crianças moradoras de um bairro proletário próximo aram de rostos cobertos, afrontaram a polícia, vibraram com a manifestação popular. Milhares de pessoas deram um recado claro a toda essa podridão governante repetindo várias vezes, em uníssono: “Não vai ter copa!”.

Toque de recolher e Estado de Sítio de fato 392m65

Por volta das 21h um caminhão de som com policiais e repleto de repórteres dos jornalões do monopólio de imprensa, com o coronel Márcio Sant’Ana no microfone, deu uma espécie de toque de recolher. Enquanto pedia aos “cidadãos de bem” que saíssem das ruas, ameaçava os manifestantes tachando-os de “subversivos” e “bandidos”. No mesmo tom em que dava ordens aos seus comandados para que prendam aqueles que caminham em grupos pelas ruas, ele também mandava os repórteres filmarem os rostos dos manifestantes.

Mas isso era só a preparação do que estava por vir.

Um corredor de policiais armados até os dentes foi postado no o ao Centro da cidade que foi totalmente sitiado pelas forças de repressão. Todos aqueles que transitavam pelas ruas foram alvos de bombas, cacetadas, revistas ou disparos de balas de borracha. A ação policial durou até o início da madrugada, quando as ruas ficaram desertas. Filmagens feitas por moradores da região e divulgadas na internet são provas da truculência policial.

Até o fechamento dessa edição de AND, segundo a Frente Independente pela Memória Verdade e Justiça de MG havia notícias de pelo menos 40 manifestantes presos. Grupos de advogados voluntários e organizações populares se empenhavam em sua defesa.


“Anjos” voluntários 6q2331

Como céleres mariposas, apressados, eles e elas corriam entre nuvens de fumaça. Respiravam o mesmo gás que os manifestantes, atravessavam saraivadas de balas de borracha, contornavam barricadas.

Chegaram rápido, vinham não se sabe de onde. Quando alguém pedia ajuda, lá estavam com suas máscaras anti-gás e seus jalecos brancos. Eram médicos e estudantes de medicina e enfermagem voluntários, que davam plantão nos protestos socorrendo manifestantes feridos.

Já havia lido sobre eles, ouvido falar, visto ar em momentos de calmaria. Mas no momento da queda do jovem operário Douglas do viaduto próximo ao Mineirão, pude vê-los em ação.

Firmes, tranquilos. Calçavam luvas de látex, pediam que a multidão se afastasse. Chamavam uma ambulância.

Práticos, respeitosamente solicitaram aos manifestantes: “Arranjem um tapume para improvisarmos uma maca!”.

Não cessaram as bombas. O gás irritava os olhos, dificultava a respiração, e lá estavam eles, cuidando do povo em luta.

Chegaram os socorristas, o povo vibrava, aplaudia os “anjos voluntários”.

Vaias, gritos de revolta. Policiais também chegavam. “Polícia, isso é culpa sua!”, e mais vaias. Cercados pela massa iracunda os policiais tiveram que se retirar “escoltados” pelos médicos, para não pagarem ali mesmo pela morte de Douglas.

Uma jovem com seu jaleco branco e máscara de gás olhou atenta para a multidão, viu o corpo de Douglas ser posto na maca. A multidão aplaudia. Ela se uniu ao coro de manifestantes. De punho erguido, gritou contra a repressão e em apoio ao trabalho dos socorristas, e se retirou tão velozmente quanto chegou.

Ainda havia trabalho a fazer.

Dicotomia* do fascismo 1o7114

Extraído de boletim do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR)

“O governo Dilma/PT/PMDB/PSB/Pecedobê, lacaios da grande burguesia, dos latifundiários e do imperialismo, inclusive submissos à máfia da Fifa, apoiado pelo monopólio das comunicações (imprensa) mentiroso e vendido, com sua velha demagogia de “pátria de chuteiras”, foram todos surpreendidos pela feroz resistência popular que muitas vezes fez as forças policiais recuarem esbaforidas.

No começo, como estão acostumados, pensaram que a repressão covarde calaria os protestos, mas ao ver que quanto mais repressão mais crescia e espalhava a revolta popular, viram-se obrigados a mudar o discurso. Para parecer que apoiam a manifestação do povo e seguir desqualificando seu protesto, escolados que são em manipulação da verdade, criaram dois tipos de manifestantes: os “pacíficos”, “ordeiros”, e os “vândalos”, “baderneiros”, com o objetivo criminoso de jogar o povo contra o povo. Enganaram-se redondamente, mesmo com o bombardeio na cabeça da população, com a histeria de “vândalos” e “pacíficos”, os papagaios mentirosos da Rede Globo e outras emissoras do monopólio foram repudiados, seus veículos apedrejados e queimados e seus marionetes postos para correr dos protestos. As manifestações tiveram um apoio vibrante de toda a população. Mais e mais manifestações pipocaram por todo o país.”

*No dicionário Houaiss: na dialética platônica, repartição de um conceito em dois outros, ger. contrários e complementares, já que abarcam toda a extensão do primeiro.

“Agora é BH, e livre já!” 46334l

Há vários anos os estudantes de Belo Horizonte levantam sucessivas jornadas de lutas pelo e livre e enfrentam a truculência dos gerenciamentos de PSDB, PT e PSB que sempre ordenaram brutal repressão policial contra essas lutas.

Nos recentes protestos, os jovens, muitos deles pela primeira vez, foram aos milhares às ruas de Belo Horizontes e aprenderam a lutar no fogo do combate. Aprenderam lições importantes de como o velho Estado age com o povo em luta e também como devem se organizar para enfrentá-lo.

No dia 28 de junho centenas de estudantes ocuparam a Câmara de Vereadores de Belo Horizonte durante a sessão que votou os demagógicos R$ 0,05 de redução nas tarifas do transporte público. Após a ocupação, mais uma vez os grupos oportunistas montaram suas comissões para debater centavos e negociar futuras candidaturas e cargos.

Longe das comissões e tergiversações, a União Colegial de Minas Gerais e o Movimento Estudantil Popular Revolucionário, organizações que dirigiram jornadas de lutas pelo e livre ao longo dos últimos anos, fizeram um chamado aos estudantes:

“Todos os direitos conquistados pelo povo foram arrancados na marra. Não ganhamos nada de graça. Não podemos ter nenhuma ilusão com negociações com qualquer ‘autoridade’ do velho Estado.

Conclamamos todos os estudantes, trabalhadores, mães e pais a nos unirmos para arrancar o e-livre e melhores condições no transporte coletivo de BH e região.

Para avançarmos temos que mobilizar e organizar milhares de estudantes e trabalhadores, necessitamos de uma forte organização. Vamos construir comandos de luta combativa e independente em cada escola e nos bairros. Não aceitar que politiqueiros que se dizem ‘representantes dos estudantes’ tentem se aproveitar de nossa luta e desviá-la do caminho combativo!”.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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