Camponeses denunciam torturas praticadas por policiais 8215z

Camponeses denunciam torturas praticadas por policiais 8215z

Dossiê revela abusos e terrorismo policial no Acampamento Tiago dos Santos 5s2yy

Um dossiê intitulado Violações e violências contra o Acampamento Tiago dos Santos foi lançado pela Associação Brasileira dos Advogados do Povo (Abrapo) no final do mês de outubro. Nele, uma série de documentos importantes revelam os fatos que precederam a campanha de criminalização contra os camponeses do Acampamento e o desfecho violento da tentativa de massacre, que teve por meta frear a pujante luta pela terra que ocorre por todo o país e, especialmente, na região amazônica.

Em meio a chantagens e terrorismo promovidos principalmente durante um despejo ilegal e com o agravo de uma lista de pessoas acusadas pelo assassinato dos policiais que circula pela região, a Abrapo lança tal documento. Nele, constam depoimentos de camponeses que viveram o momento de barbárie e desmascaram o real objetivo por trás da maquinação. Os depoentes tiveram suas identidades preservadas.

Um latifúndio imprestável com apoio do velho Estado

O documento se inicia destrinchando as condições sob as quais se encontrava o latifúndio onde o Acampamento está situado, cujos processos judiciais anteriores revelam se tratar de área de conflitos agrários desde o ano de 2014. Apesar do suposto proprietário de mais de 57 mil hectares ser a empresa Leme Empreendimentos Ltda, de propriedade de Antônio Martins (conhecido como “Galo Velho”), o mesmo possui um longo histórico de grilagem de terras organizada em quadrilha, com a participação inclusive de funcionários do velho Estado, fato comprovado pela Polícia Federal, que o apontou como chefe do esquema. Mesmo com a apuração da rede de grilagem, as terras não foram restituídas para União, comprovando o que afirma o documento da Abrapo sobre o apoio e proteção que o grileiro Galo Velho tem recebido.

O dossiê também expõe que a ocupação do imóvel pelas famílias camponesas foi um método usado para pressionar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a dar a destinação correta àquela terra, ou seja, para os que nela vivem e trabalham.

Terror e despejo ilegal

Em meio a esse processo, em 3/10, o assassinato de dois policiais foi utilizado para incriminar camponeses do Acampamento Tiago dos Santos e servir de justificativa para um cerco montado pela Polícia Militar (PM) contra o Acampamento. O dossiê denuncia que, desde o dia seguinte aos assassinatos, a PM utilizou helicópteros para atirar contra os camponeses e, após isso, prosseguiu com diversas práticas de terror psicológico, como por exemplo, impedir a entrada de mantimentos e atirando cartuchos de balas dos helicópteros, a fim de culpar os camponeses.

Os fatos que se sucederam atestam o objetivo de frear a luta pela terra. No dia 05/10, o grileiro criminoso Galo Velho anexou matérias jornalísticas sensacionalistas nos autos para pedir que o despejo fosse realizado. Outras “autoridades” policiais e políticas também solicitaram “Garantia da Lei e da Ordem” (GLO) contra os camponeses.

Em 09/10, de forma ilegal e arbitrária, um juiz concedeu “liminar de manutenção de posse”, violando todas as orientações e preceitos jurídicos que emanam da proteção à vida em situação de conflitos agrários.

O dossiê evidencia que a escalada de violência chegou ao seu ápice no dia 10/10, quando uma série de brutalidades ocorreram. Estão listadas ações da PM como: destruição de patrimônio particular dos camponeses e de alimentos, roubo de materiais de trabalho e pertences pessoais, desaparecimento de documentos e dinheiro, incêndio culposo de veículos, entre outras práticas que caracterizam de violência extrema, tanto física, patrimonial, quanto psicológica contra os trabalhadores, tudo em benefício do latifundiário.

A ação contou com um contingente de mais de 300 policiais, sem identificação em seus uniformes, que tiraram foto dos documentos dos camponeses e dos seus rostos. Dentre uma lista de improbidades, os agentes ameaçaram fabricar “montagens” com as imagens e impediram os camponeses de irem em Delegacias de Polícia Civil para efetuar registro de ocorrência.

O que dizem as massas

Os depoimentos recolhidos pela Abrapo narram o terror vivido pelos camponeses. Em um dos depoimentos, um deles afirma:

Quando eles [os policiais]chegaram, foram todo mundo para frente, para esperar eles. As crianças, as mães, os idosos, todo mundo, tinha muita gente mesmo. Quando eles desceram do carro, a gente começou a cantar o hino nacional e eles começaram a tacar bomba em nós. Tinha tudo quanto é polícia, Exército, Força Nacional e tudo. Nós cantando o hino e eles jogando bomba, aquelas bombas de gás, de pimenta. Mulheres e crianças desmaiaram. Muita gente se apavorou. Fizeram a gente sentar todos aqui no banco da igreja e fizeram a gente tirar as máscaras, todo mundo amontoado e sem máscara. E ficamos mais ou menos das 9h da manhã até as 4h da tarde sentados. Quando um queria ir ao banheiro eles começavam a torturar as pessoas que iam. Teve um homem que apanhou no banheiro porque eles queriam que falasse quem matou os policiais. E aqui ninguém matou os policiais. Nós falávamos isso e que nós não matamos, que estamos aqui porque precisamos da terra e somos trabalhadores. Teve gente aqui que ficou sem comer por conta disso tudo. Escoltou todo mundo, jogava nossas coisas para todo lado, jogou moto, foi uma confusão. Eles ameaçavam a gente, falavam um monte de coisas pra gente falar quem foi que matou os policiais, mas nós não sabemos quem matou ninguém. amos a maior humilhação aqui dentro”.

Em outro depoimento, há o seguinte relato:

Em determinado momento, eles [policiais] pediram para que se levantasse uma pessoa e essa pessoa depois que se prontificasse teria que escolher mais uma ou duas pessoas, tanto homem quanto mulher; e a partir daí levariam essa três pessoas para um determinado lugar lá do Acampamento para que se fossem feitas as perguntas, afastados dos outros, e se não obtivessem as respostas que eles desejavam ouvir ou ter eles retornavam e davam um tempo. A princípio ele deu um minuto, depois o comandante deu uma hora para que se levantasse alguém e tomasse a mesma iniciativa e estivesse pronto a responder as perguntas que eles queriam ouvir. Por último deram meia hora para que se levantassem as pessoas e aí como ninguém mais respondeu eles tomaram a iniciativa de falar para que todos começassem a pegar os seus pertences, na verdade fizessem uma trouxa, a palavra que ele falou foi trouxa, uma trouxa para cada um. Em determinado momento perguntaram se havia líder, onde estava o pessoal líder que comandava as assembleias, perguntaram se ninguém falaria mais nada etc. Aí foi onde começou o processo de arrumarem as trouxas. Eu não vi essas pessoas interrogadas apanhando e eles falavam que essas pessoas não sofreram maus tratos nem opressão nenhuma e elas relataram para nós que não tinham sofrido nada. Mas houve um rapaz e um senhor que foi vítima de tortura, levou tapa na cara e no rosto, e eles batiam só em um lado do rosto, dois chutes nas costas e várias pressões psicológicas. A polícia mostrou um vídeo para essas pessoas que foram violentadas, era um vídeo do Bolsonaro e diziam: ‘olha aí o que o seu presidente tá mandando fazer com vocês’, e aí era o Bolsonaro falando as barbáries contra os camponeses. Teve outro cidadão que me relatou que sofreu golpes na barriga e estava sentindo muita dor. Tiveram outros casos de violência lá também. Eles fizeram muita bagunça, jogaram muita coisa no chão, roupas. Desfizeram sacolas e tudo o que estava arrumadinho nos barracos eles destruíram, de barraco em barraco fazendo isso, um por um. E depois de ter feito tudo isso aí, ele determinou que cada família fosse em seu barraco acompanhada com os policiais, se fossem três integrantes de uma família só eram três policiais que iriam acompanhando por cada barraco. E depois de terem feito esse processo todo com todos os familiares, aí que começou a retirada de todos. Eles pegaram nossos celulares, dizendo que era objeto de investigação. Devolveram depois que já estávamos na Vila da Penha. Para alguns eles devolveram os celulares e para outros não. Alguns relatam que pegaram dinheiro e documentos, sumiu tudo.”

Diversos outros depoimentos, fotos e fatos podem ser lidos no Dossiê emitido pela Abrapo que se encontra também no portal do AND.

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