Na edição 88 de AND contamos a história de Bradley Manning, o soldado estadunidense acusado de vazar documentos secretos do imperialismo ianque sobre as ocupações do Iraque e do Afeganistão. Os documentos foram tornados públicos pela organização WikiLeaks. Manning pode, finalmente, dar seu testemunho, revelando o nível do terrorismo de Estado ianque contra seu próprio povo. 5y6r5y
No fim de novembro, Manning compareceu a um tribunal militar, em Fort Meade, Maryland, para uma audiência preliminar ao conselho de guerra a que será submetido no próximo ano. Em seu depoimento, o soldado conta as torturas físicas e psicológicas que vem sofrendo desde sua prisão, em 2010.
Os relatos de Manning foram reados à DemocracyNow através de seus advogados.
Michael Ratner, um dos advogados, encontrava-se na sala de audiências, no dia em que Manning prestou seu depoimento. Ratner descreveu a cena: “Foi uma das cenas mais dramáticas que já vi em uma sala de audiências (…)Quando Bradley começou a falar não estava nervoso. Seu testemunho foi extremamente comovedor, realmente emotivo para todos nós, mas especialmente, como é evidente, para o próprio Bradley pelo que teve que ar. Foi terrível o que aconteceu em dois anos, mas ele descreveu tudo com riqueza de detalhes, de um modo eloquente, inteligente e consciente”.
Segundo Ratner, Manning descreveu da seguinte forma o período em que ficou preso no Kuwait: “Creio que perdi a noção do tempo. Não sabia se era dia ou noite. Meu mundo se tornou muito pequeno. Converteu-se nessas duas jaulas”.
Ratner detalhou as condições da prisão onde Manning estava: “Havia duas jaulas. Disse que eram como jaulas para animais. Estavam sob uma tenda, só estas duas jaulas, uma ao lado da outra. Uma delas continha alguns dos pertences de Manning, na outra, onde ele estava, havia uma pequena cama, uma estante e um vaso sanitário. Ele permaneceu nesta jaula escura durante quase dois meses. Ele foi retirado dela por curto espaço de tempo e depois, sem dar explicações, voltaram a colocá-lo na jaula (…).”
Depois do Kuwait, Manning foi levado para uma base militar em Quantico, na Virgínia, USA. Ratner contou como o soldado relatou sua prisão:
“Bradley contou como era estar nessa cela, na qual se deve dormir em uma pequena cama, com uma luz frontal apontada na sua direção, que deixavam acesa para poder observá-lo. Se ele se movia para evitar a luz iam acordá-lo. Isso acontecia pela noite. Durante o dia, ava de 23 a 23 horas e meia na cela. Às vezes, tinha 20 minutos do que chamavam de “exercício ao sol”, o que não é nada. O que ele podia fazer? Porque supostamente está em serviço, devendo ou estar em pé ou sentado nesta cama de metal com os pés no solo e sem poder apoiar-se em nada. Isso durante 10 ou 15 horas por dia, o que deve se chamar de privação dos sentidos.”
Os oficiais do exército responderam apenas que o tratamento era necessário porque ele podia suicidar-se. O comentário foi desmentido por um psiquiatra forense de Quantico.
O depoimento de Manning faz parte de uma etapa preliminar chamada de “a etapa das moções de castigo ilícito antes do julgamento”. Nessa etapa, foi considerada uma moção da defesa pedindo o fim do caso. Não se acredita que aconteça, mas há esperanças de que a pena seja reduzida em virtude do tratamento cruel a que foi submetido.
Atualmente, ele está detido em Fort Levaenworth, Kansas, onde as condições não são tão severas como nas prisões pelas quais ou antes.