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Em dezembro de 2013, o jornalista Patrick Granja foi ao morro do São Carlos a convite de um grupo de ex-presidiários recém-saídos do cárcere. Na associação de moradores do Estácio, o grupo mostrou a Patrick vários vídeos que estavam produzindo a alguns meses encenando suas experiências na prisão. Apesar de amador, o material — produzido com um celular — revelava o potencial desses jovens para o cinema e a dramaturgia. Foi aí que surgiu a ideia: produzir um documentário com cenas ficcionais denunciando a situação trágica dos presídios brasileiros e revelando a arte como potencial ferramenta de ressocialização para esses jovens encarcerados nas mais de 400 unidades prisionais pelo Brasil. Livres, um filme para quem desconhece a brutalidade de um sistema prisional que tem como única funcionalidade disseminar o ódio e criminalizar a pobreza.
A ideia foi muito bem recebida pelo grupo e, pouco a pouco, o projeto de documentário foi amadurecendo. Durante o processo de construção do projeto, as histórias desses seis homens se revelaram verdadeiros dramas regados por toda ordem de arbitrariedades e desumanidades. Desde a péssima alimentação, aos espancamentos, isolamentos e torturas, o dia-a-dia na cadeia é um verdadeiro caos. A falta de políticas de empregabilidade torna a liberdade outra prisão. Muitos têm que esconder o ado de crimes para ser contratados nas mais subalternas funções.
A maioria desses seis jovens encontrou na arte — da música às artes plásticas — a luz no fim do túnel, a motivação para mudar de vida. Através do projeto Carceragem Cidadã, gerido pelo delegado Orlando Zaccone e pelo músico e ex-integrante da banda O Rappa, Marcelo Yuka, os seis personagens principais de nosso documentário tiveram a chance de frequentar cineclubes, oficinas de artes, de música, entre outras atividades; tudo dentro da carceragem da 52ª DP (Nova Iguaçu). Agora, a paixão pela arte desenvolvida dentro da cadeia fez desses jovens os porta-vozes de uma massa de quase 600 mil presos em todo o Brasil.
Desde o início desse ano, AND tem promovido oficinas de teatro e preparação de elenco, ministradas pela atriz Viviane Cataldi visando preparar os personagens de Livres para as gravações. Com a ajuda incansável da produtora e roteirista Káliman Chiappini, a ideia começou a virar um projeto no papel, que não demorou a ser levada à prática. Em seguida, juntou-se à equipe de forma voluntária o time da Paêbirú Realizações Culturais, a experiência que faltava para a produção de um documentário de peso. A Paêbirú é responsável pela produção do filme Domínio Público, que contextualiza o cenário de ataque do Estado aos direitos do povo com vistas aos megaeventos e de resistência popular em defesa desses direitos nos últimos dois anos.
Livres será um DOC-Ficção longa-metragem baseado nas histórias de seis personagens ex-presos e vítimas das agruras do cárcere. Além de contar suas experiências, esses mesmos personagens irão encenar suas narrativas em sets de filmagem que tentarão se assemelhar ao máximo à realidade do sistema prisional brasileiro. Também irão participar do filme alguns especialistas no tema, como criminalistas, acadêmicos e sociólogos. O projeto ainda está muito limitado em termos de orçamento e, por isso, nas próximas semanas, AND e a Paêbirú irão lançar uma campanha na plataforma colaborativa Catarse para arrecadar o que falta para a realização do documentário. Contamos com a sua ajuda.