As famílias do Acampamento Fazenda Várzea Grande foram despejadas pelas forças de repressão do velho Estado no dia 31 de janeiro, em Rio Largo, Alagoas. A reintegração de posse foi cumprida por um grande efetivo de policiais militares, sendo marcada por arbitrariedades e truculência. 2py3u
Em protesto contra ataques de usina, camponeses bloqueiam trecho da BR-101, em Rio Largo, 12/2016
“Nem mesmo diante de toda esta série de crimes e arbitrariedades, as massas camponesas não vão desistir de sua justa luta. Os camponeses de Rio Largo seguirão o mesmo caminho dos camponeses de Pau D’arco que enfrentaram o latifúndio e retomaram suas terras logo depois que o latifúndio promoveu uma chacina para tentar expulsá-los. Na fazenda Várzea Grande estão depositados o sangue, o suor e sacrifício das massas camponesas que vivem submetidas à exploração da usina faz muitos anos. Nas terras da Várzea Grande está também o trabalho dos barracos que foram construídos e das roças que foram plantadas, tudo destroçado pela usina. Por isto os camponeses afirmam que aquelas terras pertencem ao povo e que serão retomadas!”, denunciou em nota a Liga dos Camponeses Pobres (L) do Nordeste.
Desde que tomaram as terras do latifúndio no dia 27 de agosto do ano ado, os camponeses, organizados pela L do Nordeste, vinham vivendo, produzindo e resistindo às tentativas de despejo pelo conluio entre as forças policiais, judiciário e a usineira Leão Irmãos Açúcar e Álcool (antiga Usina Utinga Leão). As famílias enfrentaram uma grande operação militar com mais de 800 agentes em 5 de outubro do ano ado, que tinha o intuito de aterrorizar os camponeses e forçá-los a abandonar a área. Ameaças, intimidações e ataques de capangas encapuzados da usineira também foram realizados, incluindo uma tentativa de assassinato com disparos de arma de fogo contra os camponeses, que conseguiram fugir ilesos.
As famílias em protesto contra os ataques e intimidações bloquearam rodovias estaduais e federais, além de organizarem panfletagens para denunciar os crimes cometidos pelos órgãos do velho Estado e pelo latifúndio. Atos em solidariedade ao Acampamento Fazenda Várzea Grande e contra a criminalização da terra também foram realizados por movimentos populares, democráticos e revolucionários em diferentes cidades do estado.
Barracos, produção de batata doce, coentro, maxixe e feijão, estradas e uma pequena ponte para a agem de carros e motos, já haviam sido construídos pelos camponeses do Acampamento Fazenda Várzea Grande.
O mandado de reintegração de posse havia sido expedido em outubro do ano ado pelo juiz substituto da 29ª Vara Cível de Maceió, Pedro Jorge Melro Cansanção, sendo solicitado pela Leão Irmãos Açúcar e Álcool, pretensa proprietária da fazenda Várzea Grande onde situa-se a Usina Utinga Leão. Segundo os camponeses, as terras da fazenda Várzea Grande teriam sido griladas pela usineira.
A Leão Irmãos Açúcar e Álcool apresenta uma série de dívidas, entre elas uma no valor de R$ 11,9 milhões com a empresa fornecedora de energia elétrica do estado, e pendências com a justiça trabalhista, sendo a nona empresa com o maior número de processos trabalhistas do estado em 2015, com 132 processos.
Famílias expulsam policiais
No dia 29 de janeiro, as famílias que ocupam a fazenda Cachoeira Dantas, em União dos Palmares, suspenderam o cumprimento da reintegração de posse ao impedir a entrada da polícia na área tomada do latifúndio. Os camponeses, em ato de defesa de suas posses, destruíram uma ponte, ergueram uma barricada com troncos de árvores e cercaram com arame farpado um riacho que corta o local para barrar a entrada de homens do 2º Batalhão da Polícia Militar (BPM) e do Centro de Gerenciamento de Crises da PM.
A fazenda Cachoeira Dantas, de 280 hectares, pretensamente reivindicada por Jaime Vergetti Siqueira Júnior, vem sendo disputa desde 2002 pelos camponeses, com tomadas e retomadas das terras e já apresenta produção de aipim (macaxeira), feijão e filho, comercializados na região, além de luz elétrica.
Em um dos recentes capítulos desta luta, no dia 22 de janeiro deste ano, por determinação do juíz da 29ª Vara Cível de Maceió, Claudemiro Avelino de Souza, parte das famílias foram removidas e algumas das casas, de taipa, destruídas por uma retroescavadeira. A outra parte das famílias seguiu e segue ocupando, resistindo e produzindo nas terras tomadas do latifúndio.