‘A vida das nossas crianças não tem valor para essa polícia’ loi

Crianças são colocadas no chão por professores durante tiroteio em favela do Rio

‘A vida das nossas crianças não tem valor para essa polícia’ loi

Junho e julho foram meses de mais tensão, mortes e escolas fechadas para grande parte dos moradores de favelas no Rio de Janeiro, expressão do avanço da política de genocídio do povo pobre no estado. 421r6k

Crianças são colocadas no chão por professores durante tiroteio em favela do Rio | Foto: Reprodução/Facebook

Após o assassinato da menina Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, dentro do colégio onde estudava, no dia 30 de março (edição 187 de AND), a lista de crimes do velho Estado só aumentou.

A polícia segue promovendo tiroteios e derramamento de sangue nas favelas durante o horário escolar, em especial, no início da manhã, quando é intenso o trânsito de estudantes a caminho das escolas. Modus operandi que vitimou também o jovem William César Machado, de 16 anos, no dia 3 de junho, conforme denunciado na edição 190 de AND.

O covarde assassinato de Maria Eduarda, ou Duda, como era chamada por colegas, foi o resultado de disparos efetuados por PMs do 41º batalhão contra a escola municipal Jornalista Daniel Piza, na favela de Acari, Zona Norte do Rio. Após o odioso crime, os mesmos PMs foram flagrados executando sumariamente dois homens que estavam feridos e deitados no chão ao lado da escola. E, menos de um mês após essa chacina, os policiais foram libertados por uma decisão do juiz Alexandre Abrahão Dias Teixeira, da 3ª Vara Criminal do Rio de Janeiro.

Depois do assassinato de Duda, segundo a direção do colégio municipal Jornalista Daniel Piza, 17 alunos abandonaram os estudos e cresceu o medo entre os demais alunos da unidade.

— Hoje, depois da morte da Maria Eduarda, os estudantes já percebem que a morte pode atingi-los. Antes, muitos iam para a janela tentar ver os confrontos. Agora, não. Há pouco tempo houve um confronto que parecia próximo daqui e imediatamente a turma toda foi para o chão se proteger. Além disso, os pais das crianças que entram de manhã não querem mais que ela fique de tarde — afirmou o diretor da escola, Luiz Menezes.

Ao contrário do que esperavam os moradores e professores da escola de Duda, após a tragédia que ceifou sua vida, Acari ou para o topo da lista de favelas que tiveram aulas interrompidas por tiroteios, segundo dados divulgados no final de maio pelas Secretarias Estadual e Municipal de Educação do Rio de Janeiro.

Jovem de 16 anos assassinado em 3 de Junho | Foto: Ellan Lustosa/AND
Jovem de 16 anos assassinado em 3 de Junho | Foto: Ellan Lustosa/AND

De acordo com o ranking, Acari ficou em 1º lugar, seguida do Complexo da Maré e da Vila Kennedy. Dos 75 dias letivos de 2017, os estudantes de Acari perderam 19 por conta da “política de segurança” (leia-se, política de extermínio do povo pobre) do gerenciamento Pezão/PMDB.

No dia 13 de junho, operações policiais na Maré, na Cidade de Deus e em Acari deixaram 8.244 estudantes sem aula nas escolas das redes estadual e municipal. Na Maré, um homem foi morto e dois ficaram feridos em um intenso tiroteio que manteve as escolas fechadas durante todo período escolar. Carlos Costa Machado, de 20 anos, chegou a ser socorrido por moradores, mas já chegou ao Hospital Geral de Bonsucesso sem vida. Além dele, foram baleados Jandson Josué da Silva Belizário, de 24 anos, e Bruno Braga de Freitas, de 26 anos. Ambos sobreviveram aos ferimentos.

Menos de uma semana depois, no dia 19 de junho, o Ciep Samora Machel, no Complexo de favelas da Maré, pegou fogo assustando alunos e professores da unidade. Moradores rapidamente acionaram o corpo de bombeiros. No entanto, em vez de enviar viaturas ABTS (caminhões de médio porte comumente utilizados por bombeiros para combate a incêndio e salvamento) para apagar as chamas, a Secretaria Estadual de “Segurança” enviou ao Complexo da Maré quatro “caveirões”, como são conhecidos os veículos blindados da polícia do Rio.

— Logo que os “caveirões” entraram na favela, começou um intenso tiroteio. O pessoal do Maré Vive disse que ligou para o pessoal da Secretaria de Segurança, que disse que a polícia estava entrando para dar “segurança” ao corpo de bombeiros. Acontece que, por causa do tiroteio, os carros dos bombeiros demoraram horas para chegar no Ciep. Quando chegaram, a escola já estava tomada pelo fogo e as crianças estavam em pânico. Nem a vida das nossas crianças tem valor para essa polícia — diz a diarista e moradora da Maré, Rosangela Costa, de 46 anos.

Segundo a Secretaria Municipal de Educação, no dia 19 ficaram fechadas 12 escolas, quatro creches e cinco Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs) que atendem 7.596 mil alunos na Maré. Escolas estaduais também fecharam as portas. Nas redes sociais, em especial na página do coletivo Maré Vive no Facebook, moradores relataram o drama sofrido por seus filhos por conta dos constantes tiroteios.

— Eu fico muito triste com isso. Tenho uma filha de 6 anos e ela, quando ouve tiros, coloca a mão no ouvido para não escutar. Ando com meu psicológico abalado por causa de tiros. É horrível — denunciou uma moradora em depoimento.

— Eu sou mãe de uma aluna do Ciep Samora Machel. Eu e outros pais ficamos no meio do tiroteio e tivemos que entrar lá na sede da ONG Luta Pela Paz até acalmar a situação. Crianças e mães estavam chorando muito. Triste e revoltante de ver essa situação — relatou outra moradora.

No dia 25 de maio, em um único dia, mais de 3 mil estudantes ficaram sem aulas por conta de operações da PM no Morro da Serrinha e na Favela do Jacarezinho, ambas na Zona Norte da cidade. No Jacarezinho, mil alunos de uma escola e duas creches municipais ficaram sem aulas por causa de uma operação do Batalhão de Operações Especiais da PM. Na ação, cinco pessoas foram baleadas e levadas para o Hospital Salgado Filho. Quatro delas morreram a caminho da unidade.

Um dos mortos foi o mototaxista Brendo Souza Silva, de 21 anos. Segundo vizinhos do rapaz, depois de balearem o jovem em uma das pernas, os policiais teriam-no executado com um tiro no peito.

Diante de tanta violência e carestia, o que os gerentes de turno do velho Estado chamam de política de “segurança pública” é na verdade uma política de extermínio e coação das massas empobrecidas.

Mais crimes contra o povo

Em 28 de junho, na Rocinha, Zona Sul, os moradores acusaram a PM de ass um jovem com um tiro no peito. Já na entrada do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, também na Zona Sul, o porteiro Fábio de Alcântara, que estava trabalhando em um prédio, morreu atingido por estilhaços de granada durante uma operação policial que resultou em confronto. No dia 30, mãe e filha (Marlene Maria da Conceição, de 76 anos, e Ana Cristina da Conceição, de 42) foram assassinadas por “balas perdidas” (termo que o monopólio da imprensa usa para justificar a matança de pobres) na Mangueira. Revoltados, os moradores incendiaram um ônibus. No mesmo dia, Claudinéia dos Santos, grávida de nove meses, foi atingida por um tiro na Favela do Lixão, em Caxias. O neném nasceu com uma lesão na vértebra que o deixou paraplégico. No dia seguinte, mais duas pessoas foram baleadas na mesma favela.

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