A quantidade de linhas de ônibus de João Pessoa diminuiu 22% nos últimos dez anos, apesar de um pequeno aumento na frota que não resolveu a precariedade do serviço. A redução se deu principalmente durante a pandemia de Covid-19, mas mesmo dois anos depois, a operação ainda não foi normalizada. 306p3h
Das 102 linhas existentes entre 2016 e 2018, restaram apenas 64 em 2020, e embora 15 linhas tenham sido retomadas desde 2021, o número ainda permanece em 79. Isso ocorre em um contexto maior de problemas de mobilidade na capital paraibana relacionados à priorização, pela prefeitura, do transporte individual em detrimento do coletivo, e do tipo de urbanização que se desenvolve na cidade, degradando diariamente a saúde física e mental dos trabalhadores.
Priorização do transporte individual 6g542s
A análise de dados revela um desequilíbrio preocupante no crescimento dos meios de transporte de João Pessoa. Segundo informações do IBGE de 2023, em um período de dez anos (2014-2023), o número de motocicletas e automóveis registrou aumentos expressivos de 54,5% e 27,4%, respectivamente. Em contraste, a frota de ônibus cresceu apenas 16,6% no mesmo período. Embora um crescimento menor na frota de ônibus fosse esperado, a disparidade gritante entre esses números evidencia a priorização do transporte individual em detrimento do coletivo.
Essa tendência de individualização do transporte é apontada como a principal causa dos congestionamentos. Em entrevista ao portal Radar Imobiliário, o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Paraíba (CAU-PB), Ricardo Vidal, destacou que o alargamento de vias, embora possa trazer alívio temporário, não resolve o problema a longo prazo. A solução, segundo ele, a pela priorização de alternativas ao transporte individual, como a melhoria e expansão do sistema de transporte público (ônibus, BRT, VLT) e a implantação de infraestrutura cicloviária adequada.
A visão do presidente do CAU-PB ecoa a realidade de outras cidades brasileiras, que também enfrentam desafios semelhantes em relação à mobilidade urbana. Portanto, o problema enfrentado pelos moradores de João Pessoa não é isolado, mas sim um reflexo da crise de mobilidade que assola todo o país.
Urbanização irregular do capitalismo burocrático 656u44
O trânsito em João Pessoa, assim como em outras cidades brasileiras, tem sido abordado predominantemente sob a ótica da engenharia civil, com soluções focadas na construção de novas vias e obras de infraestrutura. Essa abordagem negligencia a raiz do problema, que é sistêmica: um modelo de urbanização que concentra milhões de pessoas em espaços densamente povoados, distantes de seus locais de trabalho, lazer e de outras atividades essenciais.
Essa configuração urbana impõe a dependência do automóvel como meio de transporte, tornando-o praticamente obrigatório para a subsistência e a participação na vida econômica e social, em síntese, na produção e reprodução da força de trabalho. Em razão dessa necessidade criada, alimentam-se os monopólios produtores de automóveis e degrada-se em ritmo acelerado o meio natural, seja na produção/circulação de carros a combustão ou elétricos.
De modo geral, nos países imperialistas ou dominados, se prioriza os meios de transporte privados em detrimento dos coletivos. Contudo, no Brasil, assim como nas outras nações oprimidas, a urbanização irregular predomina (espécie de favelização), com planejamento precário ou inexistente, exceto em algumas avenidas principais de certas capitais. Assim, o sucateamento do transporte público e a urbanização desordenada devem ser entendidos como produtos do capitalismo burocrático e da semicolonialidade que caracterizam o país.
Essa perspectiva revela diferenças cruciais no planejamento urbano entre o Brasil e países imperialistas, como Alemanha e Inglaterra. Nesses últimos, a alta industrialização exige um transporte coletivo eficiente para a mobilidade das massas trabalhadoras, diminuindo a dependência do automóvel individual para a vida social. Além disso, esses países frequentemente possuem legislações rigorosas sobre emissão de poluentes, enquanto no Brasil ela é mais permissiva, refletindo a subordinação do país a interesses econômicos externos e a fragilidade de suas instituições frente a esses interesses, o que se manifesta na priorização do lucro máximo em detrimento do bem-estar da população e do meio ambiente.
Impactos sobre a saúde dos trabalhadores n3l5o
O trânsito exerce diversos impactos negativos na saúde dos trabalhadores, abrangendo efeitos físicos e psicológicos. A exposição constante ao estresse do tráfego contribui para o desenvolvimento de distúrbios do sono, hipertensão arterial, comprometimento do sistema imunológico, problemas de concentração e irritabilidade. Nesse sentido, segundo o engenheiro Igor Kiuchi: “O estresse relacionado ao trânsito também é um fator de risco para uma variedade de problemas de saúde mental, incluindo ansiedade e depressão”.