O óbvio aconteceu. Depois de meses das primeiras denúncias sobre um cerco montado por pistoleiros em volta das terras Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul, um indígena foi assassinado. mt2r
O crime foi cometido pela Polícia Militar na manhã do dia 18 de setembro durante uma operação dos policiais, em conjunto com pistoleiros, na Terra Indígena (TI) Nhanderu Marangatu. A PM foi até a terra por ordem da parlamentar do partido de Bolsonaro (PL), Luana Ruiz.
É evidente que os responsáveis imediatos e centrais pelo crime são o latifúndio bolsonarista do Mato Grosso do Sul e seus agentes oficiais e paramilitares, que movem uma verdadeira operação de guerra contra os Guarani-Kaiowá em diferentes municípios do estado.
Mas o governo federal também tem sua cota de responsabilidade na tragédia. Até agora, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) não disse nada sobre o assunto. Nem o presidente Luiz Inácio. Como a PM responde ao governo do Estado, é provável que o governo, se vier a tratar da situação, tente se isentar de qualquer culpa.
Mas foi o governo federal que, frente há meses de uma operação de cerco e aniquilamento contra os Guarani-Kaiowá, não ordenou que as tropas federais, da Força Nacional ou Polícia Federal, agissem com dureza contra a pistolagem. Desde julho, o AND acompanha a situação no MS. As reportagens in loco registraram as viaturas da Força Nacional ao lado dos acampamentos dos pistoleiros, sem que nada fizessem. À noite, quando holofotes eram ligados contra os Guarani-Kaiowá para impedir o sono das famílias, as tropas continuavam inertes.
E o povo brasileiro lembra de quando, nesse cenário de guerra, as tropas da Força Nacional abandonaram (!) as redondezas da retomadas Pikyxyin, Kurapa’yty e Yvy Ajere, em Douradina, abrindo espaço para a livre atuação dos pistoleiros, que deixaram 10 indígenas feridos. Depois do absurdo, nacionalmente denunciado, não houve nenhuma cobrança pública por parte do MPI ou de Luiz Inácio sobre a atuação das tropas. Não houve abertura de investigação para saber o porquê do abandono das terras e averiguar as denúncias dos Guarani-Kaiowá de que se tratou de conluio das tropas federais e pistoleiros.
Dias depois, quando a ministra Sonia Guajajara visitou a região, limitou-se ao discurso de que “ambos os lados precisavam ser ouvidos”.
E no mês seguinte, a mesma Força Nacional tentou despejar indígenas Avá-Guarani no Oeste paranaense de uma terra reivindicada pelos povos originários. Os indígenas conseguiram resistir e expulsaram as tropas das terras. Mais uma vez, silêncio do governo.
O governo não precisa ordenar despejo, criar uma megaoperação ou aprovar um projeto de retirada de despejos para ter responsabilidade sobre o cenário de crimes contra os povos indígenas. Ao abrir espaço em seu governo para representantes do latifúndio, não condenar tropas que abandonam um terreno de guerra sem explicações, ordenar que tropas federais tentem despejar indígenas em luta pela terra e ao manter, nos salões oficiais, uma política de conciliação e mediação mesmo nos projetos mais absurdos, mais vis, mais cruéis, como o marco temporal, Luiz Inácio mostra que é um governo de sinal verde à atuação do latifúndio bolsonarista.
A líder Yakui Tupinambá foi pedagógica na descrição que fez do governo em um evento oficial na semana ada: “um governo, que sabemos o motivo senhor presidente, enfraquecido, acorrentado, que faz alianças e conchavos para se manter no poder”.
Em setembro do ano ado, a Liga dos Camponeses Pobres alertou: “A história não perdoa. Conciliar com a reação sempre levou a banhos de sangue das massas!”. E logo abaixou, convocou:
“Nós conclamamos e exortamos os camponeses a armarem as organizações de autodefesa da luta pela terra na mesma proporção e calibre!“
“Conclamamos as lideranças camponesas que não dobraram os joelhos, e são milhares por esse Brasil afora, as lideranças de posseiros, os povos indígenas, as organizações quilombolas, as populações atingidas por barragens, por mineração e por cultivos de eucalipto, as massas proletárias e demais trabalhadores da cidade, que cada vez mais lutam em defesa de seus direitos pisoteados, a cerrar fileiras com nosso bravo campesinato, com o caminho da Revolução Agrária“