Latifundiários e militares armados com rifles de precisão, pistolas, minas magnéticas, lança-rojão tipo AT 34 (uma espécie de bazuca), fuzis para caça de animais e drones coordenavam um grupo paramilitar mercenário de “caça a comunistas”, segundo as conclusões de uma operação da Polícia Federal divulgadas hoje. 1l6c3v
O grupo cobrava para ass pessoas. Os valores variavam de acordo com a influência da vítima: “figuras normais” custavam R$ 50 mil, deputados, R$ 100 mil, senadores, R$ 150 mil e ministros ou figuras do judiciário, R$ 250 mil.
Além das armas e do veículo aéreo não tripulado, o grupo tinha cinco veículos de porte pequeno/médio, cinco doblôs e placas de carro frias, como são chamadas as placas irregulares ou falsas não cadastradas no Departamento Estadual de Trânsito (Detran).
Eles também usavam disfarces como perucas e bigodes falsos e tinham planos de usar prostitutas para atrair os alvos – técnica que, por mais que possa servir para alvos degenerados, não há histórico de sucesso contra comunistas.
Cinco pessoas foram presas pelo assassinato do advogado Roberto Zampieri. As investigações apontam que ele teve a morte encomendada por conta de uma disputa de terras avaliadas em R$ 100 milhões. O advogado foi assassinado assim que saiu do escritório com 10 tiros de pistola disparados por um homem de boné. Os envolvidos apontados pela investigação são:
- Aníbal Manoel Laurindo (latifundiário e suposto coordenador);
- Coronel Luiz Cacadini (suposto financiador);
- Antônio Gomes da Silva (suposto atirador);
- Hedilerson Barbosa (suposto intermediador, auxiliar do atirador e dono da pistola 9mm usada no assassinato)
- Gilberto Louzada da Silva.
O grupo também investigou o senador reacionário Rodrigo Pacheco (PSD-MG), segundo as investigações, mas não é sabido a extensão da ação em relação a esta figura.
Igual ao regime militar 5z191d
O bando criminoso se intitula “Comando de Caça a Comunistas, Corruptos e Criminosos”, ou “Comando C4”. A dinâmica de atuação é muito parecida com a de grupos paramilitares que existiram no regime militar e que eram muito envolvidos com a corrupção e com elementos da escória da sociedade, como o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) e a Scuderie Le Cocq.
São bandos paramilitares, muito bem armados pela relação com militares ou policiais e afiliados ideologicamente com a extrema direita. A Scuderie Le Cocq – nome dado em homenagem ao detetive Milton Le Cocq, morto por um policial durante uma perseguição ao paramilitar “Cara de Cavalo – foi fundada por 12 policiais em 1965 e é acusada de ter executado ao menos 1,5 mil pessoas no Espírito Santo, segundo um artigo publicado no Consultor Jurídico em 2006. Já o CCC foi criado em 1963 por policiais, estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O grupo recebia treinamento do Exército, segundo uma notícia do jornal monopolista Folha de São Paulo publicada em 1997.
Esses grupos tornaram-se mais reclusos após o fim do regime militar fascista, mas nunca foram totalmente extintos. A Scuderie Le Cocq existe até hoje, embora o Tribunal Regional Federal da 2ª Região tenha confirmado a extinção do grupo em 2006, e chega a ter uma página no Instagram, um site e uma sede na Rua do Rosário, 61, no centro do Rio de Janeiro. No Instagram, eles fazem publicidades para que policiais e aposentados se juntem ao grupo paramilitar. O grupo também fez panfletagens em algumas áreas do Rio de Janeiro.
De volta aos holofotes 2gb4b
O bando voltou a ficar famoso depois do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol), pois o envolvido no crime, Ronnie Lessa, tinha sido filiado à Scuderie. A família Bolsonaro, cujas relações com os envolvidos no assassinato de Marielle Franco são várias, também tem relações com o grupo: o deputado Flávio Bolsonaro e Augusto Heleno (general do Exército e ex-integrante do governo Bolsonaro) já tiraram fotos com membros do grupo de delinquentes e o ex-presidente Jair Bolsonaro nomeou um ex-membro do bando, Carlos Humberto Mannato, para o cargo de Secretário Especial para a Câmara dos Deputados da Casa Civil.
O incentivo que o governo de Jair Bolsonaro (2018-2022) deu a esses grupos, com a oficialização de meios para bandos de extrema direita se armarem, facilitou o crescimento da sua atuação, conforme mostram várias reportagens dos portais AND e Repórter Brasil.
Forte atuação no campo 2c5k1g
As reportagens mostram que essa atuação ocorre sobretudo no campo, onde o crescimento da extrema direita e o armamento generalizado de bandos paramilitares fez com que os pistoleiros e latifundiários deixassem de ser meros grupos armados de ataque aos camponeses pobres e indígenas para bandos paramilitares mais militarizados e movidos ideologicamente na guerra contra o povo.
O governo de Luiz Inácio (PT), por sua vez, fez pouco para combater esse processo. O movimento paramilitar “Invasão Zero” participou de vários ataques aos pobres do campo em 2024, segundo um relatório da Comissão Pastoral da Terra (T) publicado em 2025.
Autodefesa 42jt
Por outro lado, movimentos democrático-revolucionários têm convocado o povo a combater esses grupos. A Liga dos Camponeses Pobres (L) convocou, em 2023 e 2024, os camponeses, quilombolas, indígenas e demais massas populares do campo a se armarem para combater os bandidos pagos pelo latifúndio. Relatos de vários pontos do país dão conta de embates cada vez mais intensos entre camponeses e indígenas, de um lado, e grupos paramilitares ou até forças estatais, de outro. O AND noticiou o conflito de indígenas que confiscaram um fuzil da Força Nacional em meio à invasão militar de uma Terra Indígena no Paraná e as batalhas camponesas em Pernambuco e Rondônia que confrontaram o grupo “Invasão Zero”.
Essas batalhas são travadas mediante a confiança nas próprias forças. Os pobres do campo não recebem apoio dos órgãos do Estado e, além disso, são reprimidos em qualquer sinal de resistência. Esse ano, a Polícia Civil da Bahia fez uma verdadeira operação terrorista no Sul do Estado baseada em rumores de que indígenas estavam armados para se defender de latifundiários. Os reacionários, por outro lado são apoiados e armados por figuras de Estado e das Forças Armadas reacionárias, e podem desfilar nos rincões do Brasil e mesmo nas cidades com distintivos, uniformes, caminhonetes e armas de grosso calibre sem grande punição.