Em um discurso para dezenas de milhares de pessoas no complexo de Haram Motahhar, na capital Teerã, o líder iraniano, aiatolá Ali Khamenei, rejeitou hoje (04/06) a proposta dos Estados Unidos (EUA) sobre o programa nuclear iraniano. 6v4g22
“A primeira palavra que os EUA dizem é que o Irã não deve ter uma indústria nuclear e deve ser dependente dos Estados Unidos. Nossa resposta para a falta de noção norte-americana é clara: eles não podem fazer nada quanto a essa questão”, disse o dirigente político do país, segundo o correspondente local do jornal brasileiro OperaMundi.
Os EUA têm buscado fazer com que o Irã abandone o programa de enriquecimento do urânio – processo que aumenta a concentração do isótopo U-235 no urânio, tornando-o mais adequado para a fissão nuclear e a geração de energia ou para a produção de armas nucleares. Para Khamenei, esse impedimento é um obstáculo ao desenvolvimento. “O enriquecimento de urânio é a questão-chave no setor nuclear, e é exatamente nisso que nossos adversários têm se concentrado. A ideia fundamental dos EUA é que não haja indústria nuclear, que dependamos deles para radiofármacos, energia, usinas de dessalinização e dezenas de outros campos importantes”, disse o líder.
Ele também pontuou sobre o desenvolvimento de uma bomba atômica. “Vocês, norte-americanos, têm bombas atômicas. O que lhes importa se o povo iraniano tem capacidade de enriquecimento ou não? O que lhes importa se o Irã tem uma indústria nuclear ou não?”, acrescentou.

Ianques e sionistas contra o Irã 5r2si
A campanha de sabotagem à indústria nuclear uraniana é coordenada entre os ianques e o Estado sionista de Israel. Em abril, o assunto foi tema de conversa entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o criminoso de guerra e primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. “Estamos ambos unidos no objetivo de que o Irã não obtenha armas nucleares”, disse Netanyahu, antes de ameaçar diretamente o país persa: “Se isso puder ser feito diplomaticamente, de forma completa, como foi feito na Líbia, acho que seria uma coisa boa”. Na verdade, a Líbia foi dilacerada por uma invasão imperialista depois que se desarmou, e até hoje segue retalhada pela disputa entre as potências e superpotências estrangeiras.

Em 2015, os EUA e potências europeias forçaram o Irã a o Plano de Ação Integral Conjunto, acordo nuclear que propunha a redução do número de centrífugas a gás do Irã de 19 mil para 5 mil e do estoque de urânio pouco enriquecido do país de 10 mil quilos (kg) para 300 kg. Tratava-se de uma intervenção violenta no desenvolvimento do país, mas mesmo assim Trump abandonou o acordo ao assumir a presidência em 2018 sob a justificativa de que o texto era “muito brando”.
O Irã aproveitou a falta de um novo acordo para investir pesado no setor, instalando 13 mil centrífugas em Natanz e Fordow e elevando o enriquecimento de urânio do país para 20% e, depois, para 60%. “A última etapa – ar de 60% para 90% de pureza – é ainda mais curta, em questão de poucas semanas, e também requer um número menor de centrífugas”, diz o jornalista indiano Prabir Purkayastha, em um artigo publicado no portal Newsclick.
Elevando o tom 223026
A nova resposta de Khamenei é uma elevação do tom frente às intimidações do imperialismo e do sionismo. O mais provável é que o Irã esteja aproveitando a situação política internacional – particularmente a efervescência da luta anti-imperialista no Oriente Médio e as pugnas entre os EUA e a China no leste asiático – para galgar degraus na disputa nuclear.

Justamente por isso, o Irã tende a continuar apoiando a luta da Resistência Anti-Imperialista Árabe, embora o regime mantenha, no plano político interno, um caráter teocrático, feudal e reacionário. No discurso de hoje, Khamenei voltou a citar a situação de Gaza.
“[Os países ocidentais] não param de falar de paz, não param de falar em direitos humanos, mas frente a matança de milhares de crianças inocentes, sem mencionar os que não são crianças, silêncio. Em Gaza foram martirizadas, em um curto período, milhares de crianças – de fato, mais de 20 mil crianças – e esses que tanto falam de direitos humanos não só não impediram isso, como ajudaram o opressor”, disse o aiatolá.
Segundo o OperaMundi, o líder iraniano condenou a cumplicidade ianque com o genocídio e convocou os países árabes a romperem relações de normalizações com Israel. “Silêncio e cautela diplomática não são mais opções viáveis”, continuou ele.
