Múltiplos setores do governo e das Forças Armadas reacionárias se reúnem no dia 8 de janeiro em um megaevento promovido pelo governo na data que completa um ano da segunda bolsonarada. De nome “Democracia Inabalada”, o ato convocou mais de 500 convidados, dentre eles integrantes do governo, comandantes das Forças Armadas, parlamentares, ministros e ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e personalidades de destaque para culminar e celebrar a conciliação reacionária em relação a questão do golpismo no País. 701f6c
Quase todos os ministros de Luiz Inácio confirmaram presença no evento, que também reuniu os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco; o presidente do STF, Luís Roberto Barroso; o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. O vice-presidente da república, Geraldo Alckmin, e o recém-nomeado procurador-geral da República, Paulo Gonet, também participaram.
O evento não deixou de ser permeado por contradições. Apesar da presença forte de diversos setores da escala federal, a presença de governadores foi baixa. Muitos deles, alinhados com o bolsonarismo ou com a oposição no geral, recusaram o convite do governo.
Até o nome do megaevento foi motivo para disputa. A proposta inicial do governo era “Democracia Restaurada”, para dar a impressão de resgate dos “valores democráticos” após o governo Bolsonaro. O título desagradou setores como os ministros do STF, que viram como uma ofensa à sua atuação de “defesa da democracia” durante o último governo. Como resultado da disputa em torno de quem mais defende o cadáver moribundo e insepulto da democracia burguesa, o STF levou a melhor e o nome foi alterado para “Democracia Inabalada”.
Mas as verdadeiras e justas polêmicas têm ocorrido mesmo entre setores do movimento popular e a posição do governo. Muitas organizações criticaram nos últimos dias o presidente Luiz Inácio pela celebração, exemplo nítido de sua estratégia de conciliação reacionária com os militares, em especial o seu Alto Comando, em relação ao tema do golpismo no País. O governo já havia sido alvo de críticas similares pela sua postura durante todo o ano de 2023, marcado pela falta de responsabilização ao Alto Comando das Forças Armadas, tanto pelo seu crescente golpismo silencioso e tutela sobre o velho Estado nos últimos anos, quanto pela omissão frente à agitação golpista escancarada da extrema-direita, que culminou no dia 8 de janeiro e cujos desdobramentos têm relação direta com a conivência dos generais da ativa.
Para não deixar dúvidas sobre o caráter do evento, o porta-voz da caserna no governo, José Múcio, deu uma entrevista sobre o 8 de janeiro, dias antes do megaevento. Na conversa com os jornalista do monopólio de imprensa Estadão, o ministro reforçou sua posição de que se deve tirar a “nuvem de desconfiança sobre as Forças Armadas” (isso, apesar da omissão clara e comprovada frente aos golpistas de extrema-direita e pela tutela militar ainda em curso).