Massas se rebelam em frente ao congresso contra acordo com o FMI. Foto: Lucía Merle 1f3x4j
Milhares de manifestantes argentinos, no dia 10 de março, atiraram pedras contra o Congresso na capital Buenos Aires, construíram barricadas em chamas e resistiram à repressão policial durante um protesto contra um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que estava sendo votado naquele mesmo momento. Bandeiras do Estados Unidos (USA) foram queimadas e pichações escritas Não ao FMI! foram feitas na fachada do congresso.
Os escritórios da vice-presidente Cristina Kirchner no Congresso foram alvejados com pedras enquanto ela se encontrava no local.
Bandeira do USA é queimada em frente ao Congresso. Foto: Reprodução
As massas se rebelaram contra uma renegociação da dívida argentina no valor de 45 bilhões de dólares com o FMI (cerca de R$ 225 bilhões). O povo argentino exige que a dívida seja cancelada e que não sejam feitos acordos com o FMI, já que quem pagará por isso será o povo, enquanto este a fome e não viu melhora alguma da sua situação com esses 45 bilhões de dólares.
Durante o protesto, foram atiradas pedras e tinta vermelha contra o congresso. Manifestantes resistiram à repressão policial que os atacavam com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Contra a repressão policial, um coquetel molotov foi lançado pelos manifestantes.
O protesto foi reprimido na frente do Congresso, porém os manifestantes seguiram resistindo pelas ruas de Buenos Aires, montando barricadas.
Em entrevista com a Euronews, um manifestante de cerca de 50 anos com pedras nas mãos declarou: “Já estamos exaustos de todos os oligarcas e daqueles que vêm e não fazem nada. Vão e votam [pelo acordo], tudo ao presidente, à Cristina, ao seu filho e todos votam. Mas de nós ninguém se lembra.” O manifestante foi, mais tarde, algemado por policiais e colocado contra o chão e detido.
Manifestante é algemado, colocado contra o chão e detido pela polícia. Foto: Infobae
O confronto durou horas. Um manifestantes foi preso e três manifestantes e cinco policiais ficaram feridos.
Argentina e o FMI
Maquete de papelão do FMI com a bandeira do USA queima em frente ao congresso. Foto: Reprodução
O longo histórico de empréstimos que a Argentina tem com o FMI mostra que, longe de beneficiar a Nação ou o povo argentinos, eles significaram o aprofundamento da dominação imperialista e do capitalismo burocrático no país. As massas sempre tiveram seus direitos e necessidades mais básicas pisoteados, enquanto viam as riquezas nacionais serem saqueadas pelos imperialistas.
Tais empréstimos se iniciaram durante o governo do general Pedro Eugenio Aramburu, em 1956, recebendo um empréstimo no total de 75 milhões de dólares (cerca de R$ 400 milhões) logo após firmar uma série de acordos militares com o USA (superpotência hegemônica única, o Estados Unidos), como o funcionamento permanente de uma missão militar ianque.
Todos os governos de turnos argentinos aprofundaram as medidas do FMI no país, sempre ligados diretamente às necessidades do imperialismo ianque e com as maquinações do Exército argentino na política nacional.
Em 1958, o presidente Arturo Frondizi obteve novos empréstimos com o FMI, com pressão dos militares. As “medidas de austeridade” impostas pelo FMI levaram o país a uma profunda instabilidade social que desembocou com o golpe de estado das Forças Armadas em 1962.
José Maria Guido, que o sucedeu, continuou a aplicar os ditames do FMI desindustrializando o país. No período, o velho Estado destacou-se também na transferência de renda ao latifúndio através do crédito financeiro, tudo isso com apoio dos grandes banqueiros. Isso fez ruir as pequenas e médias empresas argentinas que não conseguiam ter o aos financiamentos bancários.
Em 1976, ocorreu mais um golpe das Forças Armadas, dessa vez durante o governo de Isabelita Perón. Em meio à sangrenta repressão contra as massas, a junta militar aplicou outro programa que serve aos interesses do FMI e ao imperialismo ianque. Mais uma vez são aprofundadas a desindustrialização da Argentina, o congelamento dos salários, extinção dos subsídios, redução dos gastos públicos, privatização das empresas estatais, liberação do crédito ao latifúndio, bem como a entrada irrefreada de produtos estrangeiros no país através da eliminação das tarifas alfandegárias e a valorização das moedas estrangeiras, fazendo ruir completamente as empresas nacionais. Demonstrando rápidos resultados ao imperialismo ianque, o embaixador do USA, Robert Hill, propôs um mês após o golpe militar o apoio do Eximbank e o manejo da dívida externa argentina.
Manobras do tipo, envolvendo diretamente o FMI e o imperialismo ianque, seguiram e seguem a acontecer até hoje. Em dados de 2020, a dívida externa da Argentina representa 70% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Em 2002, a dívida externa da Argentina chegou a representar 152,3% do seu PIB.
Atualmente, a dívida pública argentina totaliza 324 bilhões de dólares, ou seja, 1.640 trilhões de reais.