Saga dos nordestinos 5f111h
Por horizonte: poeira.
Terras secas e rachadas,
Quebrando pás e enxadas,
Sem cerca, eira e nem beira.
Somente o sol por fronteira
Castiga, queima, inferniza.
Nenhum bafejo de brisa.
Só o gemer da porteira.
Já não existe parreira,
Nem sombra, água ou abrigo.
Só um imenso jazigo,
De animais em fileira.
Vazias, as algibeiras,
Nos ombros secos de um forte,
No chão – carcaça e morte.
No céu – ave carniceira.
A fome leva à cegueira,
À criança – qual palito.
Neste deserto maldito,
Só raízes na chaleira.
O gado morrendo à beira
De um lodoso sequeiro.
Nem mato ou capim rasteiro,
Só fome, dor e caveira.
Comendo caça e poeira.
Coração triste, ofegante,
Enrugam os pés e a fronte,
Nem sentem a dor costumeira.
Numa prece derradeira,
Erguem as mãos ao infinito,
Ninguém escuta o seu grito,
Cala o céu e a terra inteira.
“- Só nos resta uma maneira:
– Sampa ou Rio de Janeiro,
Lá a gente faz dinheiro
Nossos guris faz carreira
Nós vorta. Vai que Deus queira.”
– Ilusão filha da peste!
Não voltam mais pro nordeste.
– Viram servos de empreiteira.
Há uma ascensão herdeira,
De uma elite que se elege.
Mas só aos bancos protege,
Cuecas, meias, carteiras.
Compram as suas cadeiras,
Fraudando a “indústria da fome.”
Nas urnas um – novo nome
A manchar nossa bandeira.
Rio, 25/07/2015.
ou: Dividindo a roubalheira
As dez sementes
O verde arbóreo,
o azul celeste,
o sol áureo,
o sangue rubro.
Tocamos a marchar.
Frescor de orvalho,
vontade férrea,
cheiro de pólvora,
gosto de sangue.
Tocamos a marchar.
O suor escorre,
riscando estradinhas às nossas testas.
A saliva nos seca,
como se tivéssemos, nós, comido areia.
O coração rufa,
qual tambores de guerra, com entusiasmo de combate.
– Marchamos e cantamos! –
Os Senhores da Terra e da Guerra,
com seus covardes esbirros e suas pandilhas
não nos fazem trepidar.
Suas manadas de celerados,
suas carabinas de aço e balas de estanho,
não nos induzem o calar,
nem nos compelem a recuar
– Marchamos e cantamos!
Nosso sangue derramam.
Nosso sangue derramaram.
Nosso sangue,
Semente Vermelha de árvore frondosa,
que abençoa o solo,
o regala à vinda de seu bom fruto
– robusta, doce fruta rubra!
Há, a história, de nos presentear,
com sua destreza e sabedoria,
o doce fruto da luta,
pelos filhos da terra semeado,
quer com seus braços,
quer com seu sangue.
Dez sagradas sementes semeadas às Terras do Norte;
dez montanhas que pesam sobre a Terra.
Sua semeada não será vã;
trará, pois, boa colheita.
Que trepidem em seus ossos,
ó, Senhores da Terra e da Guerra,
com seus covardes esbirros e suas pandilhas
– os doces frutos da luta cáusticos se farão em suas bocas! -,
pois que, repentino como foi o plantio,
assim há de ser a colheita!
As dez sementes foram semeadas;
não tardarão, seus frutos, a germinar.
Em nosso tempo,
tocamos a marchar.
(Em memória aos heroicos camponeses caídos na Chacina de Pau D’Arco)