Mesmo ameaçada e pressionada pela gerência federal e seus cúmplices do latifúndio/agronegócio e grande burguesia (empresas do ramo madeireiro, palmiteiro, mineral, etc), a nação indígena munduruku prossegue fazendo a autodemarcação de seu território ancestral, que foi iniciada em novembro. 6g3423
Em 17 de julho último, os mundurukus divulgaram uma interessante Carta contando sobre sua mais recente expedição de trabalho na floresta. O relato finaliza mostrando a coragem de não parar, mesmo prevendo problemas: “Continuamos aqui na autodemarcação e não sabemos o que vamos encontrar pela frente…”
A medição munduruku trata-se de um ato combativo contra o “governo” PT/PMDB/pecedobê, que paralisou o processo de reconhecimento das terras da tribo e de suas fronteiras. E é também uma ação de resistência contra outros segmentos das classes dominantes que invadem e destroem seu patrimônio (a maioria empresas que ou atuam diretamente na área ou que, indiretamente, compram os produtos retirados do território dos índios, incentivando grupos quase sempre pobres/excluídos a praticarem as ilegalidades).
Conforme o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), a paralisação dos procedimentos por parte de Brasília “salienta a intenção do governo federal de construir o complexo hidrelétrico de São Luiz do Tapajós”, que afetará diversas zonas do povo munduruku. “Sabemos que se demarcar atrapalha a usina. Tem esse entendimento no governo”, afirmou o cacique Juarez.
A autodemarcação é um avanço de qualidade nas lutas das classes exploradas por seus direitos, e vem sendo realizada por organizações de camponeses pobres em vários pontos do país. Recentemente, em 25 de junho, conforme noticiou AND, anunciou-se que a mesma prática será adotada por outros indígenas (além do povo munduruku): Grande Assembleia do Povo Guarani (Aty Guaçu); tribos do Nordeste, Sudeste, Sul, Pantanal e região, Minas Gerais, Espírito Santo e Amazônia.
Os mundurukus habitam o sudoeste do Pará, somam cerca de 13 mil pessoas, se autodenominam Wuyjuyu ou Wuy Jugu e sua língua pertence ao tronco tupi.
O relato 553z2w
A íntegra da Carta dos índios, publicada na internet em 17 de julho, é a seguinte.
“Nós, Munduruku do Alto e Médio Tapajós, estamos dando continuidade com a segunda etapa da autodemarcação IPI WUYXI IBUYXIM IKUKAP- DAJE KAPAP EYPI.
Em cinco dias na floresta, concluímos seis pontos da autodemarcação e presenciamos rastros de destruição, feitos pelos ladrões invasores de nossas terras: madeireiros, palmiteiros e grileiros.
No segundo dia, acompanhando o rastro dos madeireiros, encontramos dificuldades para a alimentação, estávamos há dois dias sem encontrar caça. A gente sabe que onde há presença de zoada de trator, de motosserra, e com a circulação de pessoas no ramal a caça fica extinta, esses animais não am sentir esse cheiro humano. Estamos falando a respeito disso em razão de presenciar essa cena durante a autodemarcação.
Depois que a gente varou no ramal dos madeireiros, vimos uma trilha, uma ponte, que eles fazem para carregar madeira e palmito de açaí. Vimos também a roça deles. Isso aqui é uma estrada para puxar madeira e palmito. Como a gente está autodemarcando agora, percebemos que está dentro da nossa área.
Estamos vendo aqui a destruição que o pessoal está fazendo no açaizal. Quem começa tudo isso são os madeireiros. Eles fazem o ramal e os palmiteiros vêm atrás destruindo o açaizal. A gente estava preservando para tirar o açaí para os nossos netos, estamos vendo que não temos mais quase nada na nossa terra. Daqui que a gente tira a fruta para dar o suco aos nossos filhos e agora estamos vendo a destruição. Sempre dizemos que os pariwat (brancos) não têm consciência disso.
Por isso que estamos fazendo a autodemarcação, porque os pariwat estão destruindo as árvores, nós não fazemos ao modo deles. A intenção do pariwat e do governo federal é só destruir mesmo, e a intenção do indígena é preservar. Por que a gente preserva? Porque esse patrimônio foi dado a nós por nosso guerreiro Karosakaybu, a terra é a nossa mãe de onde tiramos nossa sobrevivência e onde podemos viver de acordo com a nossa cultura.
Daje Kapap Eypi é um lugar sagrado para todo o povo Munduruku, seja do Alto ou Médio Tapajós. Temos que preservar a nossa natureza, o nosso rio, os nossos animais e as nossas frutas, deixadas por Karosakaybu.
Estamos realizando a autodemarcação para mostrar que essa terra é nossa, para que os brancos respeitem a nossa terra. Queremos ter autonomia em nossa terra, queremos que nós, indígenas, possamos ser os fiscais e protetores dessa terra como sempre fomos.
Continuamos aqui na autodemarcação e não sabemos o que vamos encontrar pela frente…
Sawe!”