Camponeses denunciam trabalho escravo em monopólio latifundiário Boa Safra Sementes 2m3i1k

Quarto onde trabalhadores eram atochados por empresa latifundiária. Foto: Captura de tela/Intercept Brasil

Camponeses denunciam trabalho escravo em monopólio latifundiário Boa Safra Sementes 2m3i1k

Ao menos 13 trabalhadores oriundos em sua maioria do Ceará e Maranhão denunciam o monopólio latifundiário de soja, feijão e arroz Boa Safra Sementes por relações análogas à escravidão impostas em diferentes fazendas em Goiás, segundo o Intercept Brasil. Os relatos detalham esquemas de aliciamento de camponeses pobres do Nordeste feito por meio de intermediários (conhecidos como gatos) para trabalhar nos latifúndios, método aplicado repetidamente em inúmeros casos de relações semifeudais de trabalho pelo País. As denúncias de 11 dos trabalhadores estão paradas no sistema judiciário. Duas delas foram declaradas inválidas pela “justiça trabalhista”, mesmo com extensas provas.  6s6h2p

As denúncias apresentadas pelos camponeses contra a empresa são várias, centradas principalmente em torno das condições precárias de alojamento. Dentre elas, estão a falta de água, falta de comida, alojamentos apertados que comportam mais de 5 trabalhadores, banheiros únicos para mais de 30 funcionários, falta de materiais básicos para limpeza dos cômodos e fossas a céu aberto localizadas nas proximidades dos alojamentos (contêineres sem ar condicionado onde os trabalhadores eram atochados). 

Filmagens e fotografias feitas pelos trabalhadores comprovam as denúncias. Além das condições precárias dos alojamentos, os espaços de trabalho careciam de condições básicas de segurança. Em um dos latifúndios, localizado na cidade goiana de Formosa, em torno de 20 trabalhadores dividiam três quartos. A cozinha possuía apenas a carcaça de um fogão velho e quebrado. A água era entregue somente uma vez por dia, à noite. Aos domingos, não havia entrega de comida, e os trabalhadores eram forçados a cozinhar em uma fogueira acesa com querosene. 

Condições precárias das instalações: fossa a céu aberto (esq.) e banheiro imundo, sem materiais disponíveis para limpeza (dir.). Foto: Captura de Tela/Intercept Brasil

Dentre um dos trabalhadores está Reginaldo (nome falso concedido pelo Intercept para proteção do camponês). Oriundo do Ceará, Reginaldo nasceu em família camponesa em situação de miséria. Na busca por emprego, Reginaldo conheceu a oferta de emprego da Boa Safras Sementes, com agens pagas para Goiás. Aceitou. Em Goiás, após o contrato, começaram os absurdos: as agens foram descontadas do salário (traço típico das relações semifeudais de trabalho, destinado a endividar o trabalhador e torná-lo dependente do latifundiário) e o alojamento em que Reginaldo foi colocado era de péssimas condições, feito em madeirite, sem água, com camas abarrotadas e um refeitório apertado. A fome não tardou a vir. “Ocorria de faltar marmita. Não tinha o que ser feito, a não ser ter a sorte de vir a marmita na próxima refeição”, diz um trecho do processo divulgado pelo Intercept. 

Apesar das provas, nada foi feito contra o latifúndio. Das duas decisões tomadas pelo Tribunal Regional do Trabalho da 18° Região, na Vara de Formosa, em Goiás, ambas foram favoráveis à Boa Safra Sementes. Uma das decisões, assinada pela juíza Nayara dos Santos Souza e divulgada pelo Intercept, afirmava que “o local era adequado para alojar os empregados, dentre eles o reclamante”. As outras 11 denúncias ainda aguardam resolução. 

‘Parceria de muito sucesso’  3b234y

Desde as primeiras denúncias, a Boa Safra Sementes buscou inibir-se das responsabilidades e transferir a culpa para a empresa Badia Agronegócio, terceirizada responsável pela construção das instalações nos latifúndios da Boa Safra. Nota-se que o esquema entre as duas empresas seguiu firme após as denúncias. Em setembro de 2022, pelo menos seis meses depois de uma das denúncias feitas por um dos trabalhadores, Marino Colpo, CEO da Boa Safra, definiu a relação das duas empresas como uma “parceria de muito sucesso”. 

De fato, a parceria baseada na superexploração e imposição de relações semifeudais aos trabalhadores tem concedido às empresas ganhos exorbitantes. No mesmo mês da denúncia referida, em abril de 2022, completou-se um ano da abertura de capital da Boa Safra na Bolsa de Valores, momento em que a empresa movimentou R$ 459,9 milhões em uma oferta pública inicial. 

Crescimento do País?  4yk1v

O esquema sórdido da Boa Safra Sementes e Badia Agronegócio não é exclusivo, tampouco raro. Somente nos cinco primeiros meses de 2023, foram mais de mil trabalhadores resgatados de “condições análogas à escravidão”. Até abril, a “lista suja do trabalho escravo” apontava que empresas do agronegócio eram a maioria dos promotores desse tipo de relação. A situação foi similar em 2022, ano em que o “agronegócio e empresas de monocultivo” foram os principais responsáveis pelos 207 casos de trabalho escravo registrados no ano, envolvendo mais de 2 mil camponeses, segundo o relatório “Conflitos no Campo”, de 2023, da T. 

Os casos e dados revelam a verdadeira base do latifúndio (“agronegócio”), setor que desde sempre no nosso país tem recebido apoio econômico, político e militar pelos diferentes governos reacionários. No governo de Luiz Inácio-Alckmin, o latifúndio tem recebido “tapinhas nas costas” do governo federal, analistas burgueses e monopólio de imprensa pelo crescimento exorbitante (21,6% no 1º trimestre de 2023) e alavancamento do PIB (crescimento de 1,6%), sustentado justamente na superexploração e imposição de relações semifeudais. Longe de punição pelos crimes, o governo promete, para os próximos meses, novas recompensas ao latifúndio, expressas sobretudo nas centenas de milhões de dólares prestes a serem destinados ao “agro” por meio do Plano Safra.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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