O jornal A Nova Democracia celebra, neste ano, seu 20º ano de luta pela imprensa popular e democrática. Nesse longo trajeto, muitas foram as coberturas especiais, dentre as quais, se destaca a cobertura da intervenção militar no Rio de Janeiro. 6b3g17
Operação do Exército na favela do Tuiuti, Barreira do Vasco e adjacentes, 2017. Fotos: Ellan Lustosa/A Nova Democracia
Era 15 de fevereiro de 2018 quando o presidente de turno, Michel Temer, acoelhado pelo Alto Comando das Forças Armadas reacionárias, decretou a intervenção federal na área de segurança pública do RJ, isto é, uma intervenção militar, empossando como interventor Walter Braga Netto, que anos dois, assumiria cargo no governo militar genocida de Bolsonaro. Há meses o Rio já era palco de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem, que permitia às Forças Armadas reacionárias e outras forças federais de repressão a atuar, com poder de polícia, na cidade.
Na ocasião do anúncio do decreto, pomposos, Michel Temer, o general e então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, e o ministro da Defesa, Raul Jungmann, disseram que aquele era um “esforço definitivo” para resolver o problema da segurança pública; que haveriam “respostas duras, firmes”; que a população devia esperar uma atuação “competente, eficaz” das Forças Armadas e policiais. O que foi entregue, de fato, foi um incremento inaudito de operações de guerras em favelas e de mortes de moradores, encobertas com o manto de “combate ao crime”.
Logo nos primeiros dias de intervenção, o comandante do Exército até então, general Villas Bôas, disse que era preciso “garantir a ação” das tropas “sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade”, isto é, salvo-conduto para cometer crimes, como aqueles cometidos durante o regime militar e parcialmente investigados pela Comissão da Verdade, dentre os quais homicídios, estupros, torturas, eliminações ilegais e desaparecimentos. Ato contínuo, 14 de março, sob intervenção militar, é executada a vereadora Marielle Franco, em um crime político que hoje, sabe-se, teve atuação direta de forças paramilitares relacionadas à extrema-direita.
No período de fevereiro de 2018 até o fim do daquele ano, quando encerrou-se a intervenção militar no RJ, em sua cobertura especial, o AND publicou mais de 60 reportagens, editoriais ou matérias, denunciando os crimes perversos perpetrados pelas forças de repressão, em especial pelas tropas das Forças Armadas reacionárias; ou analisando os rumos de dita intervenção militar.
AND nº 207, 1ª Quinzena de Abril de 2018
Segundo dados do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Candido Mendes e do Observatório da Intervenção, de fevereiro daquele ano até seu término, a intervenção militar fez aumentar em 57% o número de tiroteios no estado; crescimento de 28% no número de mortes por decorrência de intervenção policial, o recorde até então, enquanto houve diminuição no número de fuzis apreendidos; e um saldo de mais de 12 chacinas em favelas no RJ, deixando 52 mortos, mais do que o dobro do ano anterior; além de dezenas de denúncias de invasões de casas, torturas, estupros de jovens e adolescentes por supostamente serem “namoradas de traficantes”, conforme registrado por várias entidades em defesa dos direitos democráticos, como o Circuito de Favelas por Direitos.
O AND contribuiu para demonstrar, aos olhos de todo o povo, o rotundo fracasso dessa ofensiva que, encoberta com discurso de “guerra ao crime”, foi mesmo medida extrema para impor um choque de ordem terrorista contra as massas populares, diante da insolúvel crise econômica, instabilidade política e tendência a levantamentos populares, diante dos ataques aos direitos previdenciários e trabalhistas que estavam em marcha.
Protesto do período de intervenção militar e GLO, contra a Reforma da Previdência e Reforma Trabalhista. Foto: Ellan Lustosa/AND
Para ler algumas dessas matérias, clique aqui.
Para celebrar esses 20 anos de AND, a redação reforça o convite para o Grande Ato político-cultural que será realizado no Rio de Janeiro, a 30 de agosto, às 17h. Todos os leitores, apoiadores e colaboradores estão instados a celebrarem conosco essa grande data, esse grande feito. Para saber mais informações, clique aqui.